“Diarreia verbal”: Ucrânia acusa Rússia de ter invadido... e na sequência, se autodesmente (tudo oficial)
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“Diarreia verbal”: Ucrânia acusa Rússia de ter invadido... e na sequência, se autodesmente (tudo oficial)


Soldados "Ukies" descansam numa beira de estrada em 26/8/2014 (NYT)
Foi manhã trabalhosa: acompanhar um aumento substancial na atividade dos separatistas nas últimas 24 horas, quando capturaram a cidade de Novoazovsk, porto estratégico no Mar de Azov, movimento que o New York Times “noticiou” como Ucrânia relata invasão russa em novo front. E, na sequência, a Ucrânia acionou a máquina de desinformar e meteu-a em volume máximo, o que resultou em impressionante diarreia verbal de berreiro e manchetes:


Tanta certeza tinha a Ucrânia de que dessa vez (diferente de outros surtos prévios de desinformação) a Rússia havia, sim, invadido, que Anton Herashchenko, conselheiro do Ministério do Interior ucraniano chegou a comentar o evento em sua página na empresa Facebook:

“Invasão pelo exército russo regular de Putin contra a Ucrânia é fato consumado”. E acrescentou que “Putin pôs de fato a Ucrânia na trilha da guerra, quando decreto foi assinado para dissolver o Parlamento”.

OK. Sabe-se que a Ucrânia não tem governo. Mas a Rússia, claro, desmentiu tudo:


Moradores de  Novoazovsk observam explosões no centro da cidade em 27/8/2014 (NYT)
Quem mais bem resumiu/repetiu a mais recente onda de propaganda de desinformação foi a   Agência Reuters:

Ucrânia acusou a Rússia na 5a-feira (28/8/2014) de promover invasão no sudeste do país em apoio a separatistas rebeldes pró-Moscou. O Conselho de Segurança da Ucrânia e o conselho de defesa disseram que a cidade fronteiriça de Novoazovsk e outras partes do sudeste da Ucrânia caíram sob controle de forças russas as quais, ao lado dos rebeldes, empreendem uma contraofensiva.

“Prossegue uma contraofensiva por soldados russos e unidades separatistas no sudeste da Ucrânia” – “informava” o Conselho em postado distribuído pela empresa Twitter.

Petro Poroshenko
O presidente Petro Poroshenko, em declaração para explicar o motivo pelo qual cancelou uma visita à Turquia, disse que “Aconteceu uma invasão por forças russas.”

Rússia nega qualquer intervenção na Ucrânia, seja armando rebeldes, seja através da fronteira. O Ministério da Defesa não quis comentar o noticiário sobre tanques russos em Novoazovsk.

“As autoridades russas já disseram muitas vezes que não há soldados russos regulares naquela área. A Rússia não está tomando parte nesse conflito armado” – disse uma fonte diplomática russa.

A mais recente escalada na crise que já dura cinco meses aconteceu apenas dois dias depois de os presidentes dos dois países se encontrarem para as primeiras conversações em mais de dois meses e concordaram trabalhar na direção de lançar um processo de paz.

O primeiro-ministro da Ucrânia, Arseny Yatseniuk apelou aos EUA, à União Europeia e aos países do G7 “para que congelem patrimônio e valores de russos até que a Rússia retire suas forças armadas, equipamento e agentes”. Avanços dos rebeldes essa semana abriram uma nova frente nos conflitos, exatamente quando o exército da Ucrânia parecia tem conquistado posição de vantagem, virtualmente cercando os separatistas em seus principais redutos de Donetsk e Lugansk.

Anton Gerashchenko, conselheiro do ministro do Interior da Ucrânia Arsen Avakov, disse, dessa vez pela empresa Facebook: “A invasão do exército regular russo de Putin contra a Ucrânia já é fato consumado e confirmado!”.

O presidente da França François Hollande disse que seria “intolerável e inaceitável”, se se comprovar que tropas russas entraram em território ucraniano.

Muito matraquear de palavras, resumido pelo primeiro-ministro-já-descartado da Ucrânia, Yatseniuk, o qual, só para lembrar, já não tem qualquer função oficial depois que o governo da Ucrânia foi dissolvido; pela empresa Twitter, semana passada:


OK. Até aqui, acusações e contra-acusações, só mais do mesmo – já conhecemos a coisa e estamos habituados.

Mas o ponto onde as coisas começaram a ficar realmente surreais, levando todo mundo não só às gargalhadas, mas também a pensar como é possível que a CIA tenha errado tão completamente a mão & o roteiro, foi a seguinte manchete de “esclarecimento” que a Agência Reuters pôs em circulação, na qual se vê mudança muito substancial na linguagem de que se serve o website do presidente da Ucrânia:


De fato, em vez de dizer explicitamente “aconteceu invasão militar russa”, o  website presidencial  agora diz que:

Tomei a decisão de cancelar a visita de trabalho que faria à República da Turquia por causa de forte agravamento da situação na região de Donetsk, especialmente em Amvrosiivka e Starobeshevo, porque tropas russas foram realmente trazidas para dentro da Ucrânia − observou o presidente ucraniano

Para os que ainda não decidiram se Continuam-Comprando [ações]-em-feládaputa-de-alta-que-não-para-nunca (orig. Buy The Fucking All Time High, BTFATH) ou se “só-passamos-por-aqui-p’ra-dar-uma-cheirada-nessas-merdas-de-flores” (orig. Smell The Fucking RosesSTFR), por favor, acomodem-se nos assentos para esperar até que a Ucrânia receba suas ordens do Departamento de Estado dos EUA, para saber se chamarão o evento “tropas russas trazidas para dentro da Ucrânia” de invasão, ou de uma espécie de pisaram-na-risca-no-chão, acidental, tudo dependendo de como a coisa toda impacta a estratégia dos EUA na Síria. Porque é disso que, de fato, se trata.

Porque não esqueçam: se e quando os EUA comecem a bombardear o regime de Assad, sob o disfarce de estarem combatendo o ISIS, só depende de darem luz verde para o Qatar mandar o gasoduto deles para a Europa... o que sempre foi o planejado, desde o início, desde 2012.

Portanto, permaneçam sintonizados, enquanto essa comédia de “guerra-pelas-redes-sociais” desenrola-se bem aí, diante dos olhos de vocês.

Redecastorphoto



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