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“Os EUA não vão parar de espionar voluntariamente”
James Bamford – Especialista em espionagem e Autor do livro “O palácio do quebra-cabeças: reportagem sobre a Agência de Segurança Nacional, a mais secreta das agências secretas dos EUA” (em tradução livre)
Autor do primeiro livro sobre a NSA, o jornalista diz que, nos últimos anos, a agência aumentou sua atividade, mas ainda precisa de foco em suas filtragens. Para o norte-americano, o Brasil é alvo de monitoramento por sua liderança na região e a relação com o Irã.
A NSA se tornou mais ativa e poderosa com a internet e as redes sociais? A NSA foi criada em 1962, muito antes da internet. Desde aquela época, eles sempre se especializaram na espionagem de comunicações. Então, eram ligações telefônicas, faxes, qualquer tipo de informação. Hoje em dia, eles se especializam em espionagem e coleta de informações digitais. Então, com o crescimento da internet, eles tiveram um aumento muito grande em suas atividades. As redes sociais também contribuem muito, pois qualquer coisa que tenha a ver com informação digital é material para eles.
Qual o nível de monitoramento da agência? Eles conseguem filtrar todos os tipos de comunicação? Há somente 25 mil empregados, então eles não conseguem ouvir absolutamente tudo que está acontecendo no mundo. Eles têm acesso a tudo o que está acontecendo, mas eles focam determinados tipos de comunicações. Eu não saberia dizer quais são esses focos especificamente, mas eles se interessam por tudo o que eles achem que pode ser útil em termos de inteligência nacional. Eles são especialistas em pesquisar dentre muitos materiais de comunicação para descobrir o que eles estão buscando. O problema é que eles não têm obtido muito sucesso, porque eles continuam perdendo muito.
Mesmo com tamanha vigilância, como não previnem ataques como o de Boston? O problema é que eles interceptam informação demais, então fica difícil analisar tudo. É como procurar uma agulha no palheiro. O problema é que eles gastam tanto tempo interceptando informações, que não conseguem olhar para tudo. Podemos dizer que o foco deles não está correto, já que eles continuam deixando passar pessoas que eles deveriam estar encontrando. Eles ainda deixam passar muito. Eles deixaram passar os ataques às embaixadas dos Estados Unidos, deixaram passar os atentados de 11 de setembro, deixaram passar as bombas da Times Square, da maratona de Boston.
O jornalista Glenn Greenwald afirmou que o Brasil é um grande alvo dos EUA. O fato pode ser considerado uma surpresa? Ou o país sempre foi monitorado? Certamente o país é monitorado. É o maior país da América do Sul, a maior economia da região, e grande parte das comunicações de toda a região passa pelo Brasil. Nem todas as comunicações vão direto para as outras localidades, muitas passam pelo Brasil. Então, se eles têm acesso às comunicações que passam pelos cabos e palas fibras ópticas do Brasil, eles têm acesso às comunicações de vários outros países da América do Sul. Não deveria ser uma surpresa o país de vocês ser monitorado. A NSA monitora países no mundo todo e o Brasil, sendo o maior país da América do Sul, seria lógico que fosse monitorado. Além disso, a NSA tem interesse em países que têm relações com o Irã, país com o qual o Brasil tem fortes conexões.
Podemos considerar que, como Dilma Rousseff, quase todos os chefes de Estado são espionados? Nem todos os chefes de Estado são monitorados. Não acho que eles tenham muito interesse no chefe de Estado do Liechtenstein, por exemplo. Isso depende da importância do país. O líder do maior país da América do Sul será um alvo, porque é um país importante.
Com todo o escândalo do vazamento de dados feito por Snowden, o senhor acredita em alguma mudança na atividade de monitoramento dos EUA? Não acho que eles vão mudar nada a não ser que alguém lhes dê um ultimato para mudar. Eles não vão parar de monitorar, a menos que alguém lhes diga “ou você para com isso, ou nós não vamos fazer reuniões, não vamos cooperar em acordos futuros etc”. Precisa haver um quid pro quo, eles não vão parar voluntariamente.
A NSA possui muitos acordos com empresas para filtrar dados? Essa operação é legal? Isso sempre aconteceu? A NSA acessa uma grande quantidade de informações e muitas delas vindas de empresas privadas. A maioria dessas relações entre a NSA e as empresas surgiram depois dos atentados de 11 de setembro.
O senhor afirmou ao programa “Fantástico”, da Rede Globo, que a NSA opera na Embaixada dos EUA no Brasil. Como se dá essa operação? A NSA e a CIA têm uma operação especial conjunta chamada Special Collections Operation, que acontece em todas as embaixadas norte-americanas pelo mundo. O que eles fazem é monitorar as comunicações dentro do país, incluindo no Brasil. Eles têm equipamentos de gravação dentro das embaixadas e monitoram toda comunicação interna de um país que passa por suas antenas. Não saberia dizer o que eles têm em termos de agentes entre a população. (Heloísa Mendonça e Raquel Sodré)
o tempo.com.br
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