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A democracia americana se aproxima de seus limites
Os Estados Unidos evitaram temporariamente o calote federal. Enquanto os republicanos lambem suas feridas, os democratas estão triunfantes. Mas ninguém deveria ficar feliz, porque a situação expôs quão quebrado realmente está o sistema político americano.
O presidente manteve as coisas breves, falando por apenas três minutos na noite de quarta-feira para elogiar o acordo da dívida fechado pelo Congresso. Após terminar, um repórter atrás dele perguntou: "Sr. presidente, isso acontecerá de novo daqui dois meses?" Barack Obama, que estava a caminho da porta, se virou e respondeu incisivamente: "Não".
Mas esse otimismo provou não ser realista no passado. Com sua reeleição em 2012, Obama achou que podia acabar com a "febre" republicana. Em vez disso, os conservadores paralisaram o governo e criaram um risco de calote federal visando impedir o projeto marcante do governo Obama: a reforma da saúde. E isso apesar do fato da "Obamacare" ter sido aprovada pela maioria em ambas as casas do Congresso, ter sido mantida pela Suprema Corte dos Estados Unidos e ter sido apoiada pelo povo americano nas urnas.
Não, o processo democrático não pode reduzir essa "febre" e provavelmente não o fará na próxima luta. Pelo contrário, a crise política se transformou em uma crise sistêmica.
A democracia americana de 237 anos está se aproximando de seus limites. Sua arquitetura política não foi projetada para bloqueios duradouros e extorsão, como tem sido praticado entusiasticamente pelos apoiadores do Tea Party (movimento radical republicano) por grande parte dos últimos quatro anos. Os pais fundadores dos Estados Unidos propuseram um sistema de pesos e contrapesos, não um de pesos e boicotes.
Dificilmente em qualquer outra democracia ocidental os direitos parlamentares da minoria são tão fortemente pronunciados como nos Estados Unidos, onde um único senador pode adiar uma legislação, negar as realidades e influenciar o sistema.
Democracia não representativa Na Alemanha, o governo é formado pela maioria no Parlamento. Nos Estados Unidos, o presidente e seus aliados no Congresso precisam organizar maiorias para cada nova lei. Mas por muito tempo Obama mal conseguiu ter uma –não para a reforma da imigração, ou para as novas leis de controle de armas, ou mesmo para o orçamento, já que a maior economia do mundo tem se virado com medidas emergenciais de gastos desde 2009.
Aproximadamente 50 populistas de direita, liderados pelo senador Ted Cruz do Tea Party, estão empurrando o antes orgulhoso Partido Republicano para uma rota kamikaze. Por que os demais republicanos deixam que isso aconteça? Eles temem a contestação dos radicais dentro de seu próprio partido em seus distritos eleitorais.
Enquanto isso, os democratas não chegam a representar uma ameaça, porque nos últimos anos as demarcações dos distritos eleitorais foram manipuladas de tal modo que quase claramente eles se tornam republicanos ou democratas. Consequentemente, os Estados Unidos perdem a natureza representativa de sua democracia representativa. Nas eleições para o Congresso em 2012, os democratas conseguiram 1,17 milhão de votos a mais que os republicanos, mas os republicanos conseguiram 33 cadeiras a mais na Câmara.
Mudanças na maioria raramente ocorrem. Nem mesmo 10% das 435 cadeiras na Câmara são consideradas em disputa. Como resultado, aqueles que estariam dispostos a um acordo em Washington já são punidos nas eleições primárias em seus distritos, a forma como os últimos moderados foram expulsos do Congresso.
Xingamento no Congresso Durante a recente disputa do teto da dívida, exaltados do Tea Party chamavam seus colegas dispostos a negociar com os democratas de "bancada da rendição". Qualquer um que votasse por fazer concessões "garantirá virtualmente um adversário nas primárias", ameaçou o republicano Tim Huelskamp, do Kansas, na terça-feira.
O discurso político antes civilizado em Washington há muito se transformou em briga amarga de rivais tentando infligir os piores ferimentos possíveis. Ninguém mais é respeitado como um oponente digno, mas atacado como um inimigo. Esse comportamento é instigado por personalidades de programas de rádio, para os quais uma concessão é um sinal de fraqueza e mentiras são apenas outra forma de realidade.
Soma-se a isso o fluxo quase ilimitado de contribuições de campanha, que financiam ofensas injuriosas cada vez mais brutais nas eleições para o Congresso a cada dois anos. Por trás dessas doações frequentemente estão grupos radicais ou bilionários com interesses, como os irmãos David e Charles Koch, que financiaram o Tea Party e acredita-se que tenham ajudado a planejar e dirigir a mais recente crise.
Ao mesmo tempo, os Estados Unidos estão passando por enormes mudanças demográficas, que ficaram recentemente evidentes na reeleição de Obama. A velha "maioria branca" está lentamente encolhendo para se tornar uma minoria. Uma das consequências é a ascensão do Tea Party, que reage ruidosamente contra mudanças, Obama e o próprio governo.
Os protagonistas do Tea Party, como a ex-governadora do Alasca, Sarah Palin, iludem seus seguidores com linguagem popular que podem entender e ostentam orgulhosamente a ignorância e a estupidez como medalhas de honra em sua batalha contra a "elite" e seu intelecto.
Os resultados ficaram evidentes durante esta mais recente crise do teto da dívida. Um calote federal pelos Estados Unidos não seria tão ruim, romantizou o republicano Ted Yoho da Flórida, demonstrando uma ignorância feliz de questões econômicas. "Pessoalmente, eu acho que traria estabilidade aos mercados mundiais", ele disse.
Desta vez, os Estados Unidos evitaram por pouco testar essas teorias malucas. Mas à medida que o sistema prossegue mancando, a próxima crise já tem uma data: 15 de janeiro de 2014, quando expira o projeto de lei acertado na quarta-feira.
O Informante
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