O príncipe, não identificado por motivos de segurança, foi citado pelo jornal The Guardian como sendo um dos netos do fundador da Arábia Saudita, Abdulaziz Ibn Saud. O herdeiro teria dito à publicação britânica que os níveis de descontentamento com o soberano estavam bastante elevados dentro da família real saudita, bem como entre o público em geral.
Em duas cartas escritas no início deste mês, o príncipe defendeu a queda de Salman, que ascendeu ao trono em janeiro, dizendo que o rei de 80 anos está inapto para governar.
“O rei não está em uma condição estável e, na realidade, o filho do rei [Mohammed bin Salman] está governando o reino”, disse o príncipe, citado pelo jornal. “Então, quatro ou possivelmente cinco dos meus tios vão se reunir em breve para discutir as cartas. Eles estão fazendo um plano com um monte de sobrinhos e isso vai abrir a porta. Uma boa parte da segunda geração está muito ansiosa”, acrescentou.
Além disso, o príncipe também fez alusão a uma insatisfação mais ampla com o Rei Salman, que se estenderia para muito além da família real.
“O público também está pressionando muito por isso, todos os tipos de pessoas, líderes tribais. Eles dizem que você tem que fazer isso ou o país vai para o desastre”, afirmou.
Meca, Petróleo e Iêmen — dor de cabeça tripla para os sauditas
As duas recentes tragédias que mataram mais de 800 pessoas em Meca – o local mais sagrado do Islã – têm suscitado muitas críticas à atual gestão. Por não ser mencionada no Corão e por não haver monarquias propriamente ditas no Islã, a legitimidade política e religiosa da Arábia Saudita depende da alegação de que o reino é capaz de administrar os locais sagrados e torná-los acessíveis para todos os muçulmanos.
Porém, quinze dias depois de mais de 100 pessoas terem morrido na sequência do colapso de um guindaste de construção na Grande Mesquita de Meca, outras 717 perderam a vida pisoteadas após um tumulto ocorrido durante a peregrinação islâmica do Hajj. Centenas de pessoas ficaram feridas. As tragédias levantaram críticas da população local e até do vizinho Irã, com o Presidente Hassan Rohani questionando a legitimidade da liderança saudita para gerenciar locais e eventos sagrados desse porte e acusando o país de incompetência.
Além dos recentes acontecimentos, a queda global nos preços do petróleo também colocou uma pressão extra sobre a liderança do Rei Salman. Na segunda-feira (28), o Financial Times relatou que o país retirou US$70 bilhões de fundos de investimento no exterior para reforçar os cofres do reino diante da situação, e o Fundo Monetário Internacional já prevê que a Arábia Saudita exceda seu orçamento em mais de US$ 107 bilhões este ano.
Nesse contexto, o filho do rei, Mohammed bin Salman, também se encontra sob pressão crescente, ainda mais por ser responsável pela empresa estatal de petróleo Aramco. Além disso, Mohammed também acumula o cargo de ministro da Defesa, onde enfrenta problemas de outra ordem.
De fato, outra questão causando grande revolta entre os sauditas é a campanha de bombardeios aéreos perpetrada contra os rebeldes houthis no Iêmen, a qual vem causando muitas baixas na população civil. Nesta terça-feira (29), um ataque saudita deixou pelo menos 135 pessoas mortas em um casamento no país vizinho, apesar de o governo negar a responsabilidade. Riad e alguns aliados ocidentais têm apoiado os ataques na esperança de fazer o ex-presidente exilado Abd Rabbuh Mansur Hadi voltar ao poder no país vizinho, mas 90% do povo saudita é contra a ofensiva, segundo afirmou um ex-oficial da Força Aérea saudita citado pelo The Guardian.
Como resultado dos problemas recentes em torno do reino, o príncipe não identificado conclamou os 13 filhos sobreviventes do fundador Ibn Saud a unirem-se para derrubar a liderança em um golpe de Estado, no que seria um dos acontecimentos mais dramáticos da história do país.
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