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ARGENTINA: Disposição britânica em impedir o reaparelhamento da FAA abre as portas para os caças russos e chineses!
A posição do Reino Unido, que já era clara, ficou ainda mais evidente quando os britânicos anunciaram que vetariam uma eventual venda de caças Gripen à Argentina, em resposta à iniciativa do Ministério da Defesa do Brasil em fornecer à FAA (Força Aérea Argentina) 24 caças Gripen NG, de fabricação brasileira, num negócio estimado em US$ 2,9 bilhões.
O Brasil, por conta da recente aquisição de 36 caças do mesmo tipo, para o reaparelhamento de sua Força Aérea, adquiriu também os direitos de produção local da aeronave, com preferência na comercialização do vetor para os países da América Latina e África. Ocorre, entretanto, que cerca de 30% dos componentes críticos da aeronave são de origem britânica, o que confere ao Reino Unido a palavra final quanto ao fornecimento dos caças, não só à Argentina, mas a qualquer cliente que assim o deseje.
Notadamente, a Saab, construtor original e proprietário do projeto do Gripen, nunca fez qualquer tentativa de oferecer a aeronave diretamente aos argentinos, mesmo das versões mais antigas, pois sempre soube que o que o Reino Unido iria bloquear qualquer venda para a Argentina.
Nos últimos anos, a Saab forneceu à Argentina outros sistemas de armas, incluindo o sistema de míssil MANPADS RBS 70 VSHORAD (Sistema de Defesa Aérea de Curto Alcance – Very Short Range Air Defence System), além de foguetes antitanque AT4, que não possuem componentes britânicos.
Atribui-se, também, à interferência diplomática por parte de Londres, o fracasso nas tentativas da FAA em adquirir caças Mirage F-1 excedentes da Espanha, assim como também os Kfir israelenses.
Toda essa situação se agrava com o fato de que, na Argentina, os orçamentos de defesa tem sido sistematicamente reduzidos, desde meados dos anos 1980, logo na sequência da derrota militar na Guerra das Malvinas, onde a democracia foi restaurada e os cortes no orçamento foram vistos pelo público como uma espécie de castigo justo sobre as forças armadas de seu país.
Voltando à FAA, seus comandantes militares não receberam o apoio devido do poder executivo local no intuito de substituir a envelhecida frota de caças Dassault Mirage IIIEA em operação no país.
Atualmente, a aeronave mais capaz presente no inventário da FAA é o A-4AR Fightinghawk, que é um upgrade do A-4M Skyhawk da McDonnell Douglas, desenvolvido pela Lockheed Martin especialmente para Argentina.
Logo após a guerra, a Argentina comprou e pagou por mais caças IAI Nesher/Dagger, de produção israelense, mas os aviões não chegaram a ser entregues devido a pressões americanas. Somente em 1992 é que a Argentina pode começar negociar a compra de novos aviões de combate. O modelo pretendido era o F-16, entretanto, com a recusa dos americanos em fornecer este modelo, eles acabaram por aceitar 32 A-4M e 4 OA-4M, que vieram a ser modernizados e equipados com o radar APG-68 (o mesmo empregado no F-16). Por mais que seja um vetor capaz, o A-4AR é, não é uma plataforma adequada à arena ar-ar, e sua principal função é o ataque a superfície.
O subfinanciamento das forças armadas chegou a um nível mais baixo em 2003, quando o Presidente Nestor Kirchner chegou no poder. A políticas de Kirchner foram continuadas por sua esposa, Cristina Fernandez Kirchner, que foi eleita presidente em 2007, e desde então governa o país.
Já em 2008, iniciaram-se as negociações com os espanhóis para a aquisição dos caças Mirage F-1, entretanto, se por um lado o governo britânico interferia nas negociações, por outro, a Presidente Cristina Kirchner falhou em não garantir as condições financeiras necessárias para que a FAA pudesse dar segmento ao negócio, cujas negociações paralisadas. A aeronave foi oferecida novamente no final de 2012, quando a manutenção dos caças Mirage mais antigos, remanescentes no inventário argentino, atingiu um nível crítico. Novamente, a despeito de qualquer interferência britânica, devido a questões financeiras, não houve avanço nas negociações. Havia sido esgotada também a capacidade espanhola em prover a certificação de aeronavegabilidade para as aeronaves, que era uma exigência regulamentar argentina. Restava ainda a opção para se obter essa certificação da França, entretanto os valores envolvidos seriam ainda maiores, sem falar que o governo francês não se mostrava inclinado ao negócio em si, haja vista vislumbrava ele mesmo eventualmente persuadir a Argentina a adquirir caças Mirage 2000 excedentes da Armée de l’Air.
Como resultado, a possível aquisição dos Mirage F-1 espanhóis foi oficialmente descartada. A FAA, então, dirigia sua atenção aos caças IAI Kfir, que poderiam ser comprados de Israel, remodelados e atualizados. As negociações sofreram com a falta de apoio dos níveis mais altos do governo da Argentina, além do fato de setores da própria FAA terem algumas algumas dúvidas sobre o estado de conservação das células israelenses.Como resultado de ambos, as negociações foram paralisadas.
A opção francesa, com o Mirage 2000, permanece tecnicamente viável, entretanto financeiramente improvável. A despeito da preferência da FAA por aeronaves ocidentais, as circunstâncias geopolíticas, associadas às complicações financeiras da Argentina tem forçado os comandantes militares daquele país a considerarem as opções oferecidas por russos e chineses.
Uma solução russa seria financeiramente conveniente para a Argentina, que possui sérias restrições orçamentárias. Recentemente, durante a visita oficial do Presidente Vladimir Putin a Buenos Aires, ocorrida em setembro desse ano, o mandatário ofereceu-se para aceitar carne, trigo e outros bens alimentares como pagamento pela compra de equipamento militar produzido por seu país.
Basta um sim da Presidente Kirchner para que em pouco tempo estejam à disposição da FAA alguns esquadrões de caças da família Flanker, totalmente armados e atualizados, o que mudaria subitamente todo o cenário geopolítico da região. Os altos custos de operação das aeronaves russas, entretanto, despertam dúvidas se essa seria a solução mais adequada.
Existe também a solução chinesa, que prevê o fornecimento do caça sino-paquistanês FC-1 / JF-17, que possui custos de operação significativamente inferiores, se comparados aos Flanker, mas que, mesmo também sendo uma aeronave consideravelmente inferior, atende aos requisitos da FAA.
O FC-1 / JF-17 seria fornecido completo, sem restrições, o que inclui a capacidade BVR e o míssil SD-10A. A China, além de ser o segundo maior parceiro comercial da Argentina, apoia suas reivindicações sobre as Ilhas Malvinas, o que confere aos chineses um status diferenciado. Outro ponto positivo é a possibilidade de produção local da aeronave.
Diante desse cenário, é sensato afirmar que os esforços diplomáticos do Reino Unido para negar à Argentina a chance de modernizar o seu poder aéreo, empurrando-a para os braços da Rússia e China, pode vir a custar caro para os britânicos, e isso já preocupa seus comandantes militares.
A Argentina não abandonou o discurso que reclama o direito à soberania das Ilhas Falklands/Malvinas, e, ainda que em tese, uma nova aventura militar na região seja improvável, o que menos se espera é que as Forças Armadas Argentinas reúnam as condições técnicas para fazê-lo. Num governo desgastado, internamente e internacionalmente, como o da Presidente Kirchner, nada cai mais como uma luva do que tocar o âmago popular com um assunto polêmico e que mexe com espírito nacionalista do povo argentino: As Malvinas!
FONTE: DefenseNews – EDIÇÃO: Cavok
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