Argumentos a favor dos Apócrifos
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Argumentos a favor dos Apócrifos


Apócrifos
1 – Os apócrifos consta nas versões mais antigas

O primeiro argumento em favor dos Apócrifos é que as versões mais antigas os incluíam. Isto, porém, é verdade apenas em parte. 

Certamente os Targuns aramaicos não os reconheceram. Nem sequer o Peshita siriaco na sua forma mais antiga continha um único livro apócrifo; foi apenas posteriormente que alguns deles foram acrescentados. 

Acabamos de ver que Jerônimo, o grande tradutor das Escrituras para o latim, não deu reconhecimento aos Apócrifos como tendo igual autoridade com os livros do Cânone Hebraico. Uma investigação mais cuidadosa desta reivindicação reduz a autoridade sobre a qual os Apócrifos se alicerçam a apenas uma versão antiga, a Septuaginta, e àquelas traduções posteriores (tais como a Itala, a Cóptica, a Etiópica, e a Siríaca posterior) que foram dela derivadas. 

Mesmo no caso da Septuaginta, os livros Apócrifos mantêm uma existência um pouco incerta. O Códice Vaticano (“B”) não tem 1 e 2 Macabeus (canônicos segundo Roma), mas inclui 1 Esdras (não-canônico segundo Roma). 

O Códice Si-. naítico (“Aief”) omite Baruque (canônico segundo Roma), mas inclui 4 Macabeus (não-canônico segundo Roma). O Códice Alexandrino (“A”) contém três livros apócrifos “não-canônicos”: 1 Esdras e 3 e 4 Macabeus. 

Então acontece que até os três mais antigos mss. da LXX demonstram considerável falta de certeza quanto aos livros que compõem a lista dos Apócrifos, e que os quatorze aceitáveis à Igreja Romana não são de modo algum substanciados pelo testemunho dos grandes unciais do quarto e do quinto séculos.

2 – Os apócrifos na LXX prova que havia um segundo cânon mais extenso

Protagonistas dos Apócrifos argumentam que a presença dos livros Apócrifos na LXX indica a existência do assim-chamado “Cânone-Alexandrino”, que incluía estes quatorze livros adicionais. Mas não é de modo nenhum certo que todos os livros na LXX foram considerados canônicos, mesmo pelos próprios judeus de Alexandria. 

Bem decisiva contra isto é a evidência de Filon de Alexandria (que viveu no primeiro século d.C). Apesar de ter citado freqüentemente os livros canônicos do “Cânone Palestiniano”, não faz uma citação sequer dos livros Apócrifos. Isto é impossível reconciliar com a teoria de um “Cânone Alexandrino” maior, a não ser que porventura alguns judeus de Alexandria não tivessem recebido este “Cânone Alexandrino” enquanto outros o reconheciam.

Em segundo lugar, relata-se de fontes fidedignas que a Versão Grega de Aquila foi aceita pelos judeus alexandrinos no segundo século d.C., apesar de não conter os livros Apócrifos. A dedução razoável desta evidência seria que (conforme o próprio Jerônimo esclareceu) os judeus de Alexandria resolveram incluir na sua edição do Antigo Testamento tanto os livros que reconheciam como sendo canônicos, como também os livros que eram “eclesiásticos” – i.é., foram reconhecidos como sendo valiosos e edificantes, sem, porém ser infalíveis.

Apoio adicional para esta suposição (que livros subcanônlcos possam ter sido conservados e utilizados juntamente com os canônicos) foi recentemente descoberto nos achados da Caverna 4 de Cunrã. Ali, no coração da Palestina, onde seguramente o “Cânone Palestiniano” deve ter sido autoritativo, pelo menos dois livros Apócrifos se fazem representar – Eclesiástico e Tobias. Um fragmento de Tobias aparece num pedacinho de papiro, outro em couro; há também um fragmento em hebraico, escrito em couro. 

Vários fragmentos de Eclesiástico foram descobertos ali, e pelo menos na pequena quantidade representada, concordam bem exatamente com mss de Eclesiástico do século onze, descobertos na Genizá de Cairo na década de 1890 (cf. Burrows, MLDSS 177, 178). 

Quanto a isto, a Quarta Caverna de Cunrã também conservou obras pseudoepigráficas tais como o Testamento de Levi, em aramaico, o mesmo em hebraico, e o livro de Enoque (fragmentos de dez mss. diferentes!). Decerto, ninguém poderia argumentar com seriedade que os sectários tão estreitos de Cunrã consideravam como canônicas todas estas obras apócrifas e pseudoepigráficas só por causa de terem conservado cópias delas.3 – O Novo Testamento cita os apócrifos

Apela-se freqüentemente ao fato que o Novo Testamento usualmente emprega a tradução da LXX ao citar o Antigo Testamento. Portanto, já que a LXX continha os Apócrifos, decerto os Apóstolos do Novo Testamento reconheciam a autoridade da LXX inteira conforme então se constituía. 

Além disto, argumentam, é um fato que ocasionalmente apela-se a obras fora do “Cânone Palestiniano”. Wildeboer e Torrey colecionaram todas as instâncias possíveis de tais citações ou alusões a obras apócrifas, incluindo-se várias que apenas são hipotéticas.

Mas toda esta linha de argumentos é realmente irrelevante para a questão em pauta, sendo que nem se alega que qualquer uma destas fontes seja proveniente dos Apócrifos Romanos. Na maioria dos casos as obras que supostamente foram citadas desapareceram há multo tempo – obras tais como o Apocalipse de Elias e a Assunção de Molsés (da qual sobrou um fragmento latino). 

Só num único caso, a citação de Enoque 1:9 em Judas 14-16, é que a. fonte citada sobreviveu. Há citações de autores gregos pagãos, também no Novo Testamento. Em Atos 17:28, Paulo cita de Arato, Phaenomena, linha 5; em 1 Corlntios 15:33, cita da comédia de Menander, Thais. Certamente ninguém poderia supor que citações tais como estas estabelecem a canonicldade ou de Arato ou de Menander. Pelo contrário, o testemunho do Novo Testamento é multo decisivo contra a canonicidade dos quatorze livros Apócrifos. 

Virtualmente todos os livros do Antigo Testamento são citados como sendo divinamente autorizados, ou pelo menos há alusão a eles como tais. Embora acabe de ser esclarecido que a mera citação não estabelece necessariamente a canonicidade, é inconcebível que os autores do Novo Testamento pudessem ter considerado como canônicos os quatorze livros dos Apócrifos Romanos, sem ter feito uso deles em citações ou alusões.

4 – Os pais da igreja citam os apócrifos

Outro argumento principal em favor dos Apócrifos é que os Pais Eclesiásticos citam estes livros como sendo autoritativos. Será mais correto dizer que alguns dos escritores cristãos antigos parecem fazer isto, enquanto outros tomam uma posição destacadamente contra sua canonicidade. Entre os a favor estão os escritores de 1 Clemente e a Epístola de Barnabé, e mais notavelmente, o contemporâneo mais jovem de Jerônimo, Agostinho de Hipona. 

Porém esta defesa deve ser qualificada como sendo apenas aparente ou presumida, pois já vimos como Judas pôde citar Enoque como registrando uma narrativa verdadeira dum episódio único sem necessariamente endossar o livro inteiro de Enoque como sendo canônico. Quanto a Agostinho, sua atitude era um pouco não crítica, e inconsistente. 

De um lado, lançou sua influência no Concilio de Cartago (397) em favor de incluir os quatorze como sendo canônicos; de outro lado, quando um antagonista apelou para uma passagem de 2 Macabeus para encerrar um argumento, Agostinho respondeu que sua causa era deveras fraca se tivesse que recorrer a um livro que não era da mesma categoria daqueles que eram recebidos e aceitos pelos judeus.

Mais sobre este assunto:

Apócrifos

A palavra grega a·pó·kry·fos é usada no seu sentido original em três textos bíblicos como se referindo a coisas ‘cuidadosamente ocultas’. (Mr 4:22; Lu 8:17; Col 2:3) Conforme aplicada a escritos, referia-se originalmente àqueles que não eram lidos em público, portanto, ‘ocultos’ de outros. Mais tarde, contudo, a palavra assumiu o sentido de espúrio ou não-canônico, e atualmente é usada mais comumente para referir-se aos escritos adicionais declarados pela Igreja Católica Romana, no Concílio de Trento (1546), como fazendo parte do cânon da Bíblia. 

Os escritores católicos se referem a tais livros como deuterocanônicos, que significa “do segundo (ou posterior) cânon”, para diferenciá-los dos protocanônicos.

Esses escritos adicionais são Tobias, Judite, Sabedoria (de Salomão), Eclesiástico (não Eclesiastes), Baruc, 1 e 2 Macabeus, suplementos de Ester, e três adições a Daniel, com nomes diversos, tais como: Cântico dos Três Jovens, Susana e os Anciãos, e A Destruição de Bel e do Dragão. O tempo exato de sua escrita é incerto, mas a evidência indica uma época não anterior ao segundo ou terceiro séculos AEC.

Evidência Contra a Canonicidade. Embora, em alguns casos, apresentem certo valor histórico, qualquer afirmação de canonicidade por parte destes escritos não dispõe de nenhuma base sólida. A evidência aponta para o término do cânon hebraico depois da escrita dos livros de Esdras, Neemias e Malaquias, no quinto século AEC. Os escritos apócrifos jamais foram incluídos no cânon judaico das Escrituras inspiradas, e não fazem parte dele atualmente.

Josefo, historiador judeu do primeiro século, mostra o reconhecimento dado apenas a esses poucos livros (do cânon hebraico) considerados sagrados, dizendo: 

“Não possuímos miríades de livros incoerentes, que discordam entre si. Nossos livros, os devidamente acreditados, são apenas vinte e dois [equivalentes aos 39 livros das Escrituras Hebraicas segundo a divisão moderna], e contêm o registro de todos os tempos.” 

Daí, ele mostra de forma clara ter consciência da existência de livros apócrifos e de sua exclusão do cânon hebraico, por acrescentar: “Desde o tempo de Artaxerxes até o nosso próprio tempo, a história completa foi escrita, mas não foi considerada digna de crédito igual aos registros anteriores, porque cessou a sucessão exata dos profetas.” — Against Apion (Contra Apião), I, 38, 41 (8).

Inclusão na “Septuaginta”. Os argumentos a favor da canonicidade dos escritos geralmente giram em torno do fato de que estes escritos apócrifos podem ser encontrados em muitas cópias primitivas da tradução Septuaginta grega das Escrituras Hebraicas, tradução iniciada no Egito por volta de 280 AEC. 

No entanto, visto que não existem cópias originais da Septuaginta, não se pode afirmar categoricamente que os livros apócrifos foram originalmente incluídos nesta obra. Muitos, talvez a maioria, dos escritos apócrifos foram admitidamente escritos depois do início do trabalho de tradução da Septuaginta, e assim, obviamente, não constavam da original lista de livros escolhidos para a tradução por parte do grupo de tradutores. No máximo, então, só poderiam ser reputados como acréscimos a tal obra.

Adicionalmente, embora os judeus de língua grega de Alexandria com o tempo inserissem tais escritos apócrifos na Septuaginta grega, e, pelo que parece, os considerassem como parte dum cânon ampliado de escritos sagrados, a declaração de Josefo, já citada, mostra que jamais foram incluídos no cânon de Jerusalém, ou Palestino, e, no máximo, eram considerados como apenas escritos secundários, e não de origem divina. Assim, o judaico Concílio de Jâmnia (por volta de 90 EC) excluiu especificamente do cânon hebraico todos esses escritos.

A necessidade de se dar a devida consideração à posição judaica sobre esse assunto é claramente especificada pelo apóstolo Paulo em Romanos 3:1, 2.

Testemunho antigo adicional. Uma das principais evidências externas contra a canonicidade dos Apócrifos é que nenhum dos escritores bíblicos cristãos citou tais livros. Embora isso, por si só, não seja conclusivo, visto que em seus escritos também faltam citações de alguns livros reconhecidos como canônicos, tais como Ester, Eclesiastes e O Cântico de Salomão, todavia, o fato de que nenhum dos escritos dos Apócrifos é citado sequer uma só vez é certamente significativo.

Não deixa de ter seu peso, também, o fato de que os principais peritos bíblicos e “pais da igreja” dos primeiros séculos da Era Comum, no todo, deram aos Apócrifos uma posição inferior. Orígenes, do início do terceiro século EC, em resultado de cuidadosa investigação, fez tal diferenciação entre esses escritos e os do cânon verdadeiro. Atanásio, Cirilo de Jerusalém, Gregório Nazianzeno e Anfíloco, todos do quarto século EC, prepararam catálogos que alistavam os escritos sagrados de acordo com o cânon hebraico, e, ou desconsideraram esses escritos adicionais ou os colocaram numa classe secundária.

Jerônimo, descrito como “o melhor perito hebraico” da igreja primitiva, e que terminou a tradução da Vulgata latina em 405 EC, adotou uma posição definida contra tais livros apócrifos, e foi na realidade o primeiro a usar a palavra “apócrifos” explicitamente no sentido de não-canônicos, como se aplicando a tais escritos. Assim, no seu prólogo aos livros de Samuel e de Reis, Jerônimo alista os livros inspirados das Escrituras Hebraicas em harmonia com o cânon hebraico (em que os 39 livros estão agrupados como 22) e então diz: 

“De modo que há vinte e dois livros . . . Este prólogo das Escrituras pode servir como enfoque fortificado para todos os livros que traduzimos do hebraico para o latim; de modo que saibamos que tudo o que for além destes precisa ser colocado entre os apócrifos.” 

Ao escrever a uma senhora chamada Laeta, sobre a educação da filha dela, Jerônimo aconselhou-a:

 “Todos os livros apócrifos devem ser evitados; mas, se ela quiser alguma vez lê-los, não para determinar a verdade das suas doutrinas, mas por respeito pelos seus maravilhosos contos, deve dar-se conta de que não foram realmente escritos por aqueles a quem são atribuídos, que eles contêm muitos elementos falhos, e que requer grande perícia para achar ouro na lama.” — Select Letters (Cartas Seletas), CVII.

Conceitos católicos divergentes. A tendência para incluir estes escritos adicionais como canônicos foi primariamente iniciada por Agostinho (354-430 EC), embora até mesmo ele, em obras posteriores, reconhecesse que havia uma distinção definida entre os livros do cânon hebraico e tais “livros alheios”.

No entanto, a Igreja Católica, seguindo o exemplo de Agostinho, incluiu esses escritos adicionais no cânon dos livros sagrados determinado pelo Concílio de Cartago em 397 EC. Todavia, não foi senão muito mais tarde, em 1546 EC, no Concílio de Trento, que a Igreja Católica Romana confirmou definitivamente sua aceitação dessas adições no seu catálogo dos livros da Bíblia, e esta ação foi julgada necessária porque, mesmo dentro da igreja, a opinião ainda estava dividida quanto a tais escritos. João Wycliffe, o sacerdote e perito católico romano que, com a subseqüente ajuda de Nicolas de Hereford, no século 14, fez a primeira tradução da Bíblia para o inglês, não incluiu os Apócrifos em sua obra, e o prefácio desta tradução declarava que tais escritos “não têm a autoridade de crença”.

O cardeal dominicano Cajetan, o mais destacado teólogo católico do seu tempo (1469-1534 EC) e chamado por Clemente VII de “lâmpada da Igreja”, também discriminou os livros do verdadeiro cânon hebraico das obras apócrifas, apelando para os escritos de Jerônimo como autoridade.

Deve-se observar também que o Concílio de Trento não aceitou todos os escritos anteriormente aprovados pelo precedente Concílio de Cartago, mas deixou de lado três deles: a Oração de Manassés, e 1 e 2 Esdras [não os livros de 1 e 2 Esdras que, em algumas versões católicas, correspondem a Esdras e Neemias]. Assim, estes três escritos, que haviam aparecido por mais de 1.100 anos na aprovada Vulgata latina, foram então excluídos.

Evidência interna. A evidência interna destes escritos apócrifos tem ainda maior peso contra a sua canonicidade do que a externa. Falta-lhes completamente o elemento profético. Seu conteúdo e seus ensinos às vezes contradizem os dos livros canônicos e também são contraditórios entre si. Estão repletos de inexatidões históricas e geográficas, e de anacronismos. 

Os escritores, em alguns casos, são culpados de desonestidade, ao representarem falsamente suas obras como sendo de anteriores escritores inspirados. Mostram-se sob influência grega pagã, por vezes até recorrendo a uma linguagem extravagante e a um estilo literário inteiramente estranho às Escrituras inspiradas. 

Dois dos escritores dão a entender que não foram inspirados. (Veja o Prólogo de Eclesiástico, CBC; 2 Macabeus 2:24-32; 15:38-40, So.) Assim, pode-se dizer que a melhor evidência contra a canonicidade dos Apócrifos são os próprios Apócrifos. Segue aqui uma consideração dos livros individuais:

Tobias (Tobit). O relato de um judeu pio da tribo de Naftali, que é deportado para Nínive e que fica cego por lhe ter caído esterco de pássaro em ambos os olhos. Ele manda seu filho, Tobias, à Média para cobrar uma dívida, e Tobias é guiado por um anjo, que se faz passar por homem, a Ecbátana (Ragés). 

Em caminho, ele obtém o coração, o fígado e o fel dum peixe. Encontra-se com uma viúva, a qual, embora casada sete vezes, continua virgem, visto que cada marido foi morto na noite das núpcias por Asmodeu, o mau espírito. Incentivado pelo anjo, Tobias casa-se com a virgem enviuvada, e por queimar o coração e o fígado do peixe, expulsa o demônio. Retornando para casa, restabelece a visão do pai por usar o fel do peixe.

É provável que a história tenha sido originalmente escrita em aramaico, e calcula-se que ela seja aproximadamente do terceiro século AEC. Obviamente, ela não é inspirada por Deus, por causa da superstição e do erro encontrados na narrativa. Entre as inexatidões encontradas nela está a seguinte: 

O relato diz que Tobias, na sua juventude, viu a revolta das tribos setentrionais, que ocorreu em 997 AEC, após a morte de Salomão (Tobias 1:4, 5, BJ), também, que ele foi posteriormente deportado para Nínive, junto com a tribo de Naftali, em 740 AEC. (Tobias 1:11-13, CBC, So) Isto significaria que ele viveu por mais de 257 anos. No entanto, Tobias 14:1-3 (CBC) diz que ele tinha 102 anos de idade quando morreu.

Judite. Este é o relato sobre uma bela viúva judia da cidade de “Betúlia”. Nabucodonosor envia seu oficial Holofernes numa campanha para o O, para destruir toda a adoração, exceto a do próprio Nabucodonosor. 

Os judeus em Betúlia são sitiados, mas Judite finge ser traidora da causa judaica e é admitida ao acampamento de Holofernes, onde ela lhe dá um relatório falso sobre as condições da cidade. Num banquete, no qual Holofernes fica embriagado, ela consegue decapitá-lo com a própria espada dele e então retornar a Betúlia com a cabeça dele. Na manhã seguinte, o acampamento inimigo é lançado em confusão, e os judeus ganham uma vitória completa.

Conforme comenta a tradução católica de A Bíblia de Jerusalém na sua Introdução aos livros de Tobias, Judite e Ester:

 “O livro de Judite, sobretudo, manifesta uma soberba indiferença pela história e pela geografia.” Entre as incoerências indicadas nesta introdução encontra-se esta: Declara-se que os eventos ocorreram durante o reinado de Nabucodonosor, que é chamado de rei “que reinou sobre os assírios em Nínive, a grande cidade”. (Judite 1:1, 7 [1:5, 10, CBC, So]) 

A introdução e as notas desta tradução indicam que Nabucodonosor era rei de Babilônia e nunca reinou em Nínive, visto que Nínive havia sido destruída anteriormente pelo pai de Nabucodonosor, Nabopolassar.

Acerca do itinerário do exército de Holofernes, esta Introdução declara que é “um desafio à geografia”. O Novo Dicionário da Bíblia (Vol. 1, p. 92) comenta: “A história não passa de franca ficção — doutro modo suas inexatidões seriam incríveis.” — Editor organizador J. D. Douglas, 1966, Edições Vida Nova, São Paulo.

Pensa-se que o livro fora escrito na Palestina durante o período grego, perto do fim do segundo século ou do começo do primeiro século AEC. Crê-se que fora originalmente escrito em hebraico.

Adições ao Livro de Ester. Estas constituem seis passagens adicionais. A primeira parte, de 17 versículos, em alguns antigos textos gregos e latinos (mas Est 11:2–12:6 na So) precede ao primeiro capítulo, apresentando um sonho de Mordecai (Mardoqueu) e a sua exposição duma conspiração contra o rei. 

Depois de 3:13 (mas 13:1-7 na So), a segunda adição apresenta o texto do edito do rei contra os judeus. No fim do capítulo 4 (mas 13:8–14:19 na So) relatam-se orações de Mordecai e de Ester como terceira adição. A quarta ocorre depois de 5:2 (mas 15:1-19 na So) e conta a audiência de Ester com o rei. 

A quinta ocorre depois de 8:12 (mas 16:1-24 na So) e consiste no edito do rei que permitiu aos judeus defender-se. No fim do livro (mas 10:4–11:1 na So), interpreta-se o sonho apresentado na introdução apócrifa.

A colocação destas adições varia em diversas traduções, algumas colocando todas no fim do livro (como Jerônimo fez na sua tradução) e outras intercalando-as no texto canônico.

Na primeira destas seções apócrifas, Mordecai é apresentado como tendo estado entre os cativos tomados por Nabucodonosor, em 617 AEC, e como homem importante na corte do rei, no segundo ano de Assuero (o gr. diz Artaxerxes) mais de um século depois. Esta declaração, que Mordecai ocupou tal cargo importante tão cedo no reinado do rei contradiz a parte canônica de Ester. 

Crê-se que as adições apócrifas sejam a obra dum judeu egípcio e que tenham sido escritas durante o segundo século AEC.

Sabedoria (de Salomão). Este é um tratado que exalta os benefícios para os que procuram a sabedoria divina. A sabedoria é personificada como mulher celestial, e a oração de Salomão, pedindo sabedoria, está incluída no texto. A última parte recapitula a história desde Adão até a conquista de Canaã, citando dela exemplos de bênçãos pela sabedoria e de calamidades pela falta dela. Considera-se a tolice da adoração de imagens.

Embora Salomão não seja mencionado especificamente por nome, em certos textos, o livro o apresenta como seu autor. (Sabedoria 9:7, 8, 12) Mas o livro cita passagens de livros bíblicos escritos séculos depois da morte de Salomão (c. 998 AEC) e faz isso da Septuaginta grega, que começou a ser traduzida por volta de 280 AEC. Crê-se que o escritor tenha sido um judeu de Alexandria, no Egito, que escreveu por volta de meados do primeiro século AEC.

O escritor manifesta estribar-se fortemente na filosofia grega. Ele usa terminologia platônica na promoção da doutrina da imortalidade da alma humana. (Sabedoria 2:23; 3:2, 4) Outros conceitos pagãos apresentados são a pré-existência das almas humanas e o conceito de que o corpo é um impedimento ou estorvo para a alma. (8:19, 20; 9:15) A apresentação dos eventos históricos desde Adão até Moisés é floreada com muitos pormenores fantasiosos, freqüentemente em contradição com o registro canônico.

Embora algumas obras de referências se esforcem a mostrar certa correspondência entre passagens desse escrito apócrifo e as posteriores obras das Escrituras Gregas Cristãs, a similaridade freqüentemente é pouca, e, mesmo onde é um pouco maior, não indicaria que os escritores cristãos recorreram a esta obra apócrifa, mas, antes, que recorreram às Escrituras Hebraicas canônicas, que o escritor apócrifo também usou.

Eclesiástico. Este livro, também chamado Sabedoria de Jesus, Filho de Sirac, tem a distinção de ser o mais longo dos livros apócrifos e o único cujo autor é conhecido, Jesus ben-Sirac de Jerusalém. O escritor explica a natureza da sabedoria e sua aplicação para uma vida bem-sucedida. A observância da Lei é fortemente enfatizada. Dá-se conselho sobre muitos campos de conduta social e da vida diária, inclusive comentários sobre modos à mesa, sonhos e viagens. A parte concludente contém um retrospecto sobre importantes personagens de Israel, terminando com o sumo sacerdote Simão II.

Contradizendo a declaração de Paulo em Romanos 5:12-19, que lança a responsabilidade pelo pecado sobre Adão, Eclesiástico diz: “Foi pela mulher que começou o pecado, e é por causa dela que todos morremos.” (25:33, CBC) O escritor prefere também “toda malícia, não, porém, a malícia da mulher”. — 25:19, CBC.

O livro foi originalmente escrito em hebraico, no começo do segundo século AEC. Citações dele são encontrados no Talmude judaico.

Baruc (Incluindo a Epístola de Jeremias). Faz-se parecer como se os primeiros cinco capítulos tivessem sido escritos pelo amigo e escriba de Jeremias, Baruque (Baruc); o sexto capítulo é apresentado como carta escrita pelo próprio Jeremias. O livro relata as expressões de arrependimento e as orações por alívio por parte dos judeus exilados em Babilônia, exortações para seguir a sabedoria, incentivo para esperar na promessa de libertação e a denúncia da idolatria babilônica.

Baruque é apresentado como estando em Babilônia (Baruc 1:1, 2), ao passo que o registro bíblico mostra que ele foi para o Egito, assim como Jeremias, e não há nenhuma evidência de que Baruque estivesse alguma vez em Babilônia. (Je 43:5-7) Contrário à profecia de Jeremias, de que a desolação de Judá durante o exílio babilônico duraria 70 anos (Je 25:11, 12; 29:10), Baruc 6:2 diz aos judeus que ficariam em Babilônia por sete gerações e então seriam libertos.

Jerônimo, no seu prefácio ao livro de Jeremias, declara: “Não achei valer a pena traduzir o livro de Baruque.” A introdução ao livro em The Jerusalem Bible (A Bíblia de Jerusalém; ed. 1966, p. 1128), sugere que partes da composição talvez tenham sido escritas só no segundo ou no primeiro século AEC; portanto, por outro autor (ou autores), e não Baruque. A língua original provavelmente foi a hebraica.

Cântico dos Três Jovens. Esta adição a Daniel segue a Daniel 3:23. Consiste em 67 versículos que apresentam uma oração supostamente proferida por Azarias dentro da fornalha ardente, seguida por um relato sobre um anjo que apagou as chamas, e finalmente um cântico entoado pelos três hebreus dentro da fornalha. O cântico é bastante similar ao Salmo 148. Suas referências ao templo, a sacerdotes e querubins, porém, não se enquadram no tempo a que se alega que se aplica. Talvez tenha sido originalmente escrito em hebraico, e é considerado como do primeiro século AEC.

Susana e os Anciãos. Este conto relata um incidente na vida da bela esposa de Joaquim, um judeu rico em Babilônia. Enquanto Susana se banhava, chegaram-se a ela dois anciãos judeus, que instaram com ela que cometesse adultério com eles, e, quando ela recusou, forjaram uma falsa acusação contra ela. 

No julgamento, ela foi condenada à morte, mas o jovem Daniel habilmente expôs os dois anciãos, e Susana foi exonerada da acusação. Não há certeza sobre a língua original. Pensa-se que tenha sido escrito durante o primeiro século AEC. Na Septuaginta grega o trecho foi colocado antes do livro canônico de Daniel, e na Vulgata latina foi colocado depois dele. Algumas versões o incluem como capítulo 13 de Daniel.

A Destruição de Bel e do Dragão. Esta é uma terceira adição a Daniel, sendo que algumas versões a colocam como capítulo 14. No relato, o Rei Ciro exige que Daniel adore um ídolo do deus Bel. Por aspergir cinzas no pavimento do templo e assim descobrir pegadas, Daniel prova que o alimento supostamente consumido pelo ídolo na realidade é consumido pelos sacerdotes pagãos e suas famílias. 

Os sacerdotes são mortos e Daniel destroça o ídolo. O rei requer de Daniel adorar um dragão vivo. Daniel destrói o dragão, mas é lançado na cova dos leões pela população enfurecida. Durante os sete dias do seu confinamento, um anjo pega Habacuque (Habacuc) pelos cabelos e leva tanto a ele como uma tigela de caldo da Judéia a Babilônia, a fim de prover Daniel de alimento. Habacuque é então devolvido à Judéia, Daniel é solto da cova, e seus oponentes são lançados nela e devorados. Considera-se ser esta adição também do primeiro século AEC. Estas adições a Daniel são chamadas em O Novo Dicionário da Bíblia (1966, Vol. 1, p. 93) de “pio exagero lendário”.

Primeiro Macabeus. Um relato histórico da luta de independência dos judeus durante o segundo século AEC, desde o começo do reinado de Antíoco Epifânio (175 AEC) até a morte de Simão Macabeu (c. 134 AEC). Trata especialmente das façanhas do sacerdote Matatias e de seus filhos, Judas, Jônatas e Simão, nas suas lutas com os sírios.

Esta é a mais valiosa das obras apócrifas, por causa das informações históricas que fornece sobre este período. Entretanto, conforme comenta The Jewish Encyclopedia (A Enciclopédia Judaica, 1976, Vol. VIII, p. 243), nela “a história é escrita do ponto de vista humano”. Igual às outras obras apócrifas, não faz parte do inspirado cânon hebraico. Foi evidentemente escrita em hebraico por volta da última parte do segundo século AEC.

Segundo Macabeus. Embora colocado após Primeiro Macabeus, este relato refere-se a parte do mesmo período (de c. 180 AEC a 160 AEC), mas não foi escrito pelo autor de Primeiro Macabeus. O escritor apresenta o livro como resumo das obras anteriores de certo Jasão de Cirene. Descreve as perseguições sofridas pelos judeus sob Antíoco Epifânio, o saque do templo e sua subseqüente rededicação deste.

O relato apresenta Jeremias, por ocasião da destruição de Jerusalém, como levando o tabernáculo e a arca do pacto a uma caverna no monte do qual Moisés viu a terra de Canaã. (2 Macabeus 2:1-16) Naturalmente, o tabernáculo havia sido substituído pelo templo uns 420 anos antes.

No dogma católico usam-se diversos textos em apoio de doutrinas tais como a punição após a morte (2 Macabeus 6:26), a intercessão de santos (15:12-16), e ser próprio orar pelos mortos (12:41-46, So).
A Bíblia de Jerusalém, na sua Introdução aos livros de Macabeus, diz a respeito de Segundo Macabeus:

 “O estilo, que é o dos escritores helenísticos, mas não dos melhores, é às vezes empolado.” 

O escritor de Segundo Macabeus não tem pretensões de escrever sob inspiração divina e devota parte do segundo capítulo para justificar sua escolha do método específico usado em tratar a matéria. (2 Macabeus 2:24-32, BJ) Ele conclui sua obra por dizer: “Porei aqui fim à minha narração. Se está bem e como convém à história, isso é o que eu desejo; mas se, pelo contrário, é vulgar e medíocre, não pude fazer melhor.” — 2 Macabeus 15:38, 39, So.

O livro foi evidentemente escrito em grego, no período entre 134 AEC e a queda de Jerusalém em 70 EC.
Obras Apócrifas Posteriores. Especialmente a partir do segundo século EC, desenvolveu-se um imenso conjunto de escritos que afirmam ter inspiração divina e canonicidade, e que pretendem estar relacionados com a fé cristã. Freqüentemente chamados de “Apócrifos do Novo Testamento”, esses escritos representam esforços de imitar os Evangelhos, Atos, cartas, e as revelações contidas nos livros canônicos das Escrituras Gregas Cristãs. Um grande número deles são conhecidos apenas através de fragmentos existentes ou por citações deles ou alusões a eles por outros escritores.

Esses escritos manifestam uma tentativa de prover informações que os escritos inspirados deliberadamente omitem, tais como as atividades e os eventos relacionados com a vida de Jesus, desde a sua infância até o tempo do seu batismo, ou um esforço de fabricar apoio para doutrinas ou tradições que não encontram base na Bíblia ou que estão em contradição a ela. Assim, o chamado Evangelho de Tomé e o Protoevangelho de Tiago estão cheios de relatos fantasiosos de milagres supostamente realizados por Jesus na sua infância. Mas o efeito global do retrato que apresentam dele é fazer Jesus parecer uma criança caprichosa e petulante, dotada de poderes impressionantes. (Compare isso com o relato genuíno em Lu 2:51, 52.) 

Os “Atos” apócrifos, tais como os “Atos de Paulo” e os “Atos de Pedro”, dão muita ênfase à completa abstinência de relações sexuais, e até mesmo apresentam os apóstolos como instando com as mulheres a se separarem do marido, contradizendo assim o conselho autêntico de Paulo em 1 Coríntios 7.

Comentando esses escritos apócrifos pós-apostólicos, The Interpreter’s Dictionary of the Bible (Dicionário Bíblico do Intérprete, Vol. 1, p. 166) declara: “Muitos deles são triviais, alguns são altamente teatrais, alguns são desagradáveis, até mesmo repulsivos.” (Editado por G. A. Buttrick, 1962) Funk and Wagnalls New Standard Bible Dictionary (Novo Dicionário Bíblico Padrão de Funk e Wagnalls, 1936, p. 56) comenta: 

“Eles têm sido a fonte frutífera de lendas sagradas e de tradições eclesiásticas. É para esses livros que temos de nos voltar para obter a origem de alguns dos dogmas da Igreja Católica Romana.”

Assim como os anteriores escritos apócrifos foram excluídos das Escrituras Hebraicas pré-cristãs aceitas, assim também esses posteriores escritos apócrifos não foram aceitos como inspirados, nem foram incluídos como canônicos nas primeiras coleções ou catálogos das Escrituras Gregas Cristãs.

Veja alguns apócrifos:




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