Daguestão: uma semana de operações antiterroristas
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Daguestão: uma semana de operações antiterroristas


Em postado sobre as bombas em Volvogrado, há poucos dias, escrevi o seguinte:

Os terroristas daguestaneses aprenderam bem as lições da Chechênia e jamais tentaram tomar posse de qualquer território ou criar alguma espécie de “estado” wahhabista no Daguestão. Exatamente o contrário disso: dia após dia, após dia, após dia, as forças de segurança combatem os terroristas daguestaneses, os quais, na maioria das vezes acabam presos ou mortos (mais frequentemente, mortos). A razão disso é óbvia: os terroristas daguestaneses são fracos e não conseguem impor-se nem à polícia local. Mas são suficientemente fortes para amarrar um colete de explosivos na cintura de um adolescente ou de um adulto jovem, homem ou mulher, e mandá-los explodirem-se numa estação de ônibus ou de trem.


O que se vê nesse vídeo é a triste realidade da vida no Daguestão hoje, onde as pessoas tentam viver a vida diária, num cenário de operações de segurança aparentemente sem fim.

Embora os serviços de segurança estejam em vantagem pelo menos por hora, o custo psicológico e econômico que pesa sobre aquela república é terrível, apesar de poucos daguestaneses serem vítimas diretas dessa guerra longa, terrível, entre terroristas wahhabistas e as agências de segurança. Imagine ter de ir à escola, às compras ou ao trabalho, numa cidade onde a qualquer momento você pode estar em área de explosão ou de operação de segurança.

Algumas palavras sobre os terroristas. São os mesmos de sempre, típicos. Ontem foram encontrados três corpos depois do assalto; um ainda não foi identificado, mas os outros dois são muito bem conhecidos dos serviços de segurança:

Marat Shikhshaitov

Marat Shikhshaitov, nascido em 1987, deixou esposa e três filhos para unir-se aos wahhbistas do movimento clandestino em 2012; já participou de várias explosões e outros crimes comuns; e Aisha Idigova, nascida em 1986, viúva de outro terrorista conhecido, Ruslan Magometov, que foi morto em 2006 por forças de segurança, em operação das forças de segurança durante ação semelhante à que houve ontem.

Em sentido tático, as forças de segurança obtiveram outra “vitória”: três terroristas perigosos foram mortos; não houve nem mortos nem feridos entre civis, nem nas forças de segurança. Mas num plano estratégico, é mais uma pequena derrota para o Daguestão, porque a ação reforça a imagem do Daguestão como ninho para o terrorismo e o extremismo.

Aisha Idigova

Preocupa, sobretudo, que não se veja fim à vista para tudo isso, pelas razões que já mencionei no primeiro postado, e que podem ser resumidas numa frase: “o Daguestão não é a Chechênia”. Não há solução local à vista; não há qualquer Kadyrov daguestanês possível; e a única “solução” possível seria fazer o quase perfeito oposto do que foi feito na Chechênia – em vez de dar ao Daguestão um grau máximo de independência e autonomia, o Kremlin imporia lei marcial, suspenderia todas as autoridades locais, inundaria a república com forças de segurança e, basicamente, reorganizaria toda a sociedade daguestanesa, com especial atenção às estruturas de poder, por linhas não étnicas. Ou essa é, pelo menos, a opção teórica.

Até que ponto é plano realista é questão muito discutida, com muitos observadores atilados e bem informados já postados resolutamente contra tal “solução”. Pessoalmente, também tenho muitas dúvidas.

A outra solução é manter o curso atual e esperar que chegue o dia em que os daguestaneses fiquem realmente fartos do que está acontecendo hoje. E quando digo “os daguestaneses” não falo de alguma maioria, porque a maioria *já está* absolutamente farta. Não. Falo de uma total, absoluta vastíssima super maioria que passe a exigir que as várias elites locais, étnicas e de negócios, reúnam-se e decidam agir. Creio que esse esforço tem de ser da responsabilidade e da iniciativa, primeiro, das autoridades locais, não do Centro Federal. O centro pode, no máximo, garantir apoio e recursos.

Quando acontecerá tal mudança na sociedade do Daguestão, não sei. Não posso prever, nem em termos gerais, quanto tempo demorará. Tudo que sei é que, no futuro examinável, não há mudança real à vista, e as notícias semanais que vêm do Daguestão, sobre mais terroristas mortos por forças de segurança, continuarão.

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