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Defesa em Debate - O estruturalismo, os EUA e sua política dos guarda-chuvas nucleares no Oriente Médio
O estruturalismo, os EUA e sua política dos guarda-chuvas nucleares no Oriente Médio
Fernanda Corrêa
Historiadora, estrategista e pesquisadora do
Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense.
[email protected]O estruturalismo da política internacional Muitos teóricos neorealistas e estudiosos das Relações Internacionais acreditam que a multipolaridade no sistema internacional é resultado da instabilidade política gerada pelo fim da bipolaridade pós-Guerra Fria. Estes neorealistas, também conhecidos como estruturalistas, são aqueles que se alicerçam nas premissas do realismo clássico para providenciar uma análise estrutural da política internacional. Resumindo: existe um grupo de países que determinam as regras de funcionamento e de comportamento das relações internacionais.
A multipolaridade, segundo estes teóricos e estudiosos, aumenta o risco de guerras e aumenta os riscos de julgamentos equivocados entre os países. Além de reforçarem a importância da unipolaridade mundial, acreditam ser válido estabelecer políticas de alianças que permitam debilitar seus potenciais inimigos. A política dos guarda-chuvas é parte destas políticas de alianças entre grandes potências e outros países a fim de debilitar possíveis inimigos. Assim, podemos dizer que, países como Canadá, Austrália, Arábia Saudita, Israel, são exemplo de países que estão sob a proteção, ou melhor, sobre o guarda-chuva dos EUA.
A política de guarda-chuvas no Oriente Médio Em função dos receios dos estruturalistas do sistema internacional de que o programa nuclear iraniano seja de finalidades militares, há rumores de que já esteja acontecendo uma corrida armamentista no Oriente Médio.
O Programa Nuclear do Irã remonta a década de 1950, quando este país, com auxílio dos EUA e de seu programa Átomos para a Paz, o auxiliaram na busca pelo domínio do ciclo completo do combustível nuclear. No entanto, os conflitos internos religiosos dificultaram maiores avanços neste Programa. Após a Revolução Islâmica, em 1979, por meio de uma parceria com a empresa alemã KWU, então uma joint venture da Siemens AG e AEG Telefunken, o programa nuclear iraniano foi retomado. Apesar dos esforços da KWU, dois fatores a forçaram a abandonar o Programa: o Irã não conseguia cumprir com os encargos econômicos contratuais e as pressões estadunidenses para cancelar seus contratos de fornecimento de tecnologia nuclear para o Irã. A KWU abandonou o território iraniano, contudo, deixou dois reatores, parcialmente, construídos. Em 1995, o Irã retomou seu Programa Nuclear e, sem êxito, buscou uma cooperação com a Rússia.
Contrariando os interesses do estruturalismo do sistema internacional, o Irã decidiu desenvolver seu programa nuclear autonomamente. Após os atentados de 11 de setembro de 2001, o Irã, a Coréia do Norte e o Iraque foram listados em um relatório do Departamento de Defesa dos EUA como Estados patrocinadores do Terrorismo Internacional. Diferente do que muitos políticos e analistas internacionais afirmam, foi neste contexto que muitos países, em especial, estes listados, voltaram a se armar, gerando rumores de uma corrida armamentista.
Embora, todos os países com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU compartilhassem com a campanha de George W. Bush (2001-2009) contra o Terrorismo Internacional, os EUA não obtiveram o apoio desejado deste Conselho para invadir o Iraque. A Inglaterra foi o único país que compactuou com a invasão dos EUA a este país, em 2003. Alegando haver armas de destruição em massa, os EUA coordenaram uma ação preemptiva no Iraque. Conclusão: não encontraram nenhuma arma de destruição em massa, a guerra se estendeu por muito mais tempo do que os políticos estadunidenses imaginavam, houve um desgaste militar e econômico excessivo, Bush deixou a presidência com a popularidade mais baixa da história dos EUA e, ao promover a destruição, inclusive, militar do Iraque, transformaram o Irã numa potência regional.
Em 2005, outro relatório do serviço de inteligência dos EUA apontou que o Irã havia retomado seu programa nuclear, enriquecia urânio em seu próprio território e que, entre 2010 e 2015, seria capaz de produzir uma bomba nuclear.
Democraticamente, Mahmoud Ahmadinejad, doutor em engenharia pela Universidade de Ciência e Tecnologia do Irã, em 2005, assumiu a presidência. Ahmadinejad, considerado ultraconservador islâmico, desde antes de sua posse, defendia a retomada do programa nuclear de finalidades pacíficas como imprescindível para o desenvolvimento social e econômico de seu país e o desarmamento nuclear internacional. Por ser signatário do TNP, em 2009, o Irã recorreu à AIEA a fim de obter auxílio no seu programa de enriquecimento de urânio. O Irã não aceitou algumas cláusulas, entre elas, a de não enriquecer urânio em seu próprio território. Em 2009, Ahmadinejad foi reeleito. Embora polêmico, tem se mostrado flexível ao diálogo com os organismos de inspeção internacional. Por convite dos EUA, em 2010, Brasil e Turquia, junto às instituições internacionais, também tentaram dialogar com o Irã. Mas, mesmo depois do sucesso do Acordo Nuclear Brasil-Irã-Turquia, as pressões estadunidenses inviabilizaram um possível bom relacionamento do Irã com os países estruturalistas do sistema internacional.
Há quem diga que o Irã está sob o guarda-chuva da Rússia e da China. Há quem diga que Israel e Arábia Saudita estejam sob o guarda-chuva dos EUA. E há quem diga que estamos em meio a uma nova Guerra Fria.
A tal corrida armamentista no Oriente Médio Como citado, tanto Israel quanto Arábia Saudita estão sob o guarda-chuva dos EUA. Ambos têm interesses em debilitar o Irã por razões geoestratégicas no Oriente Médio. Embora Israel não confirme, há suspeitas de que tenha a bomba atômica. Recentemente, em função da suposta corrida armamentista provocada pelo programa nuclear iraniano, há rumores de que a Arábia Saudita, maior exportador mundial de petróleo, também esteja interessada na bomba atômica.
Além da Arábia Saudita, os analistas de política internacional apontam que Egito e Turquia também estejam interessados na bomba atômica. Afirmam que a Arábia Saudita poderia recorrer a três opções: desenvolver autonomamente, recorrer ao aliado Paquistão ou aos EUA. Considerando tais opções, principalmente, pela parceria estratégica que mantém há anos com os EUA, a opção mais provável seria a Arábia Saudita recorrer a este país.
De qualquer maneira, uma guerra não declarada já está em curso no Oriente Médio. Cientistas iranianos assassinados, vírus de computadores feitos em laboratório sabotando processos tecnológicos e usinas nucleares iranianas e sanções econômicas. Os experts afirmam ser provável que o Irã já seja alvo de drones e navios em suas costas. Acredita-se que o eixo EUA-Israel-Arábia Saudita seja autor destes atentados.
E o Brasil? Qual guarda-chuva o protege? O Brasil é um país com as aspirações internacionais pacíficas. Embora domine o ciclo completo do combustível nuclear, esteja construindo em parceria com a França um submarino com propulsão nuclear, esteja construindo sua terceira usina nuclear, por razões políticas, não tem interesse em construir a bomba atômica. Além dos vários acordos internacionais assinados reforçando o desinteresse do Brasil na bomba nuclear, há a garantia Constitucional, comprometimento raro na política mundial.
Em função do comportamento dúbio e agressivo de países no sistema internacional, a defesa tem se tornado imperativa para o Brasil.
O Brasil não possui inimigos no sistema internacional, mas possui inúmeras riquezas a zelar. Enquanto o atual momento não exigir a necessidade de o Brasil optar por um lado, não se escolherá nenhum lado. Isso é o que permite o Brasil ter livre circulação diplomática na política mundial, se armar estabelecendo acordos militares com diferentes países e, principalmente, não ter a necessidade e a vontade de se proteger sob guarda-chuva de nenhum país.
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