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Diálogo franco entre Irã e EUA é única solução para impasse nuclear, diz El Baradei
Ex-chefe da AIEA acredita que negociações entre os dois países serão retomadas em caso de reeleição de ObamaHá esperança de que Irã e Estados Unidos voltem a negociar após a eleição presidencial norte-americana, marcada para 6 de novembro, e cheguem a algum consenso, pelo menos em caso de reeleição do democrata Barack Obama. A expectativa, cercada de diversas ponderações, é do o egípcio Mohamed El Baradei, ex-chefe da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) das Nações Unidas.
“O único caminho para se resolver essa crise é Irã e Estados Unidos sentarem para conversar. Será uma ocasião em que terão de resolver problemas que datam de mais de 50 anos”, disse Baradei, que pediu à plateia que compreendesse as raízes históricas do impasse e em como o Irã vê o mundo após décadas de exploração ocidental de seus recursos naturais. “Não é surpreendente que eles estejam se sentindo ameaçados. E crises não se resolvem por ameaças. Atacar o Irã seria um desastre total, colocaria todo o Oriente Médio em guerra, o fornecimento de petróleo seria interrompido, o preço do barril iria saltar. Esse dinheiro seria gasto na compra de armas e o regime iraniano contaria com o apoio da população e do mundo árabe. O único caminho, então, é o diálogo”.
O diplomata, que dirigiu o órgão entre 1997 e 2009, realizou na noite desta terça-feira (30/10) uma palestra na Sala São Paulo, zona central da capital paulista, no evento Fronteiras do pensamento. Além de falar sobre o programa nuclear iraniano, o prêmio Nobel da Paz de 2005 abordou temas como a Primavera Árabe, o processo de redemocratização do Egito, o conflito Israel-Palestina, bastidores da guerra no Iraque, a falta de lideranças mundiais frente à crise econômica e a inutilidade das armas nucleares.
Durante sua palestra e na resposta às perguntas, Baradei desmistificou uma série de preconceitos em relação ao país persa, “caricaturizado pela mídia ocidental”, lembrando que ele sempre esteve disposto a negociar.
“Creio que a relação é mais complexa. Por que um país quer armas nucleares ou, pelo menos, ter capacidade para isso? Poder, prestígio, e política de segurança preventiva contra ataques externos. O Irã está determinado a dominar a técnica de produzir energia nuclear, e quer se tornar uma potência regional. E acham que não serão atacados se todos souberem que eles têm essa capacidade de produção”, disse Baradei, que considera a estratégia errada, pois o objetivo deveria ser eliminar a presença de armas nucleares no planeta.
Nem por isso deixou de criticar o governo iraniano, a quem acusou de ser “pouco transparente”. Quando foi perguntado se o governo iraniano de fato dificultou as inspeções da agência em instalações nucleares persas, Baradei revelou que, nos primórdios do programa, iniciado em 2003 pelo reformista Mohamed Khatami, os iranianos compravam técnicas do mercado negro, realizaram desvios, mas admitiam isso, o que não ocorreria hoje com o endurecimento das posições dos EUA.
Perguntado se as condições para negociar a partir de 2013 estarão facilitadas com o fim do mandato do presidente Mahmoud Ahmadinejad, Baradei lembrou que este sempre esteve disposto a negociar, desde o início de seu governo. “Eram os Estados Unidos de [George W.] Bush que se recusava a conversar, impondo pré-condições irrealistas para a negociação, como a interrupção do programa de enriquecimento de urânio”.
A mudança de postura norte-americana, segundo Baradei, chegou com Barack Obama. “Ele sempre quis negociar, tirou as pré-condições de Bush e esteve próximo de avançar no diálogo. Mas as tentativas foram desmontadas em razão de interferência das políticas internas dos dois países, pois lideranças de ambos não querem entender que diálogo não é um sinal de fraqueza”, afirmou.
E se o republicano Mitt Romney for eleito? Baradei desconversa: “Não sei muito sobre o senhor Romney, mas se Obama for reeleito, sei como ele tentará agir”.
Opera Mundi
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