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Dominó Árabe - 'Polarização põe em xeque futuro do Egito'
Exército agiu com brutalidade contra apoiadores de Morsi Governo admite que já passa de 500 o número de mortos no Egito
Jeremy Bowen
Ambos os lados do conflito no Egito acreditam que o futuro do país esteja em jogo. Provavelmente, eles estão certos.
Os recentes eventos nas ruas do Cairo e em todo o país estão moldando a maneira como ele será tratado pelas próximas gerações. A euforia que seguiu-se à queda do presidente Hosni Mubarak em fevereiro de 2011 já parece muito distante.
A sensação que prevalece agora é a de que "o vencedor leva tudo". Antes que o presidente Mohammed Morsi, da Irmandade Muçulmana, fosse deposto e aprisionado pelas Forças Armadas, ele governava, não para todos os egípcios, ? como tinha prometido ? mas para seus partidários.
A Irmandade Muçulmana tentava chegar ao poder desde 1928. Ao invés de construir um consenso nacional, o presidente Morsi e a Irmandade estavam determinados a aproveitar suas chances de mudar o Egito à sua maneira.
Agora o chefe do Exército, general Abdul Fattah Al-Sisi e seus seguidores fazem o mesmo. Eles dizem querer estabelecer uma política democrática, mas a brutalidade da ação contra a Irmandade Muçulmana parece mostrar que eles querem eliminá-la como força política.
Como sempre, os eventos no Egito estão sendo monitorados de perto por todo o mundo árabe. Cerca de 18 meses atrás, a Irmandade e seus aliados em outros países pareciam ser os grandes vencedores das revoltas árabes, chegando em primeiro lugar nas eleições.
Mas agora a resposta negativa a eles pode se espalhar. A ação contra os acampamentos da Irmandade Muçulmana no Cairo não resolve a crise egípcia. Pode aprofundá-la.
Pelo menos 525 pessoas foram mortas durante as operações das forças de segurança do Egito para desmantelar dois acampamentos de apoiadores de Mohammed Morsi nesta quarta-feira. Mas segundo a Irmandade Mulçumana, grupo político que apoia Morsi, esse número já passa de 2 mil. Um toque de recolher foi imposto pelo governo depois do dia mais sangrento no Egito desde o movimento pró-democracia, há dois anos.
Segundo a repórter da BBC no Cairo, Bethany Bell, o sentimento entre os egípcios é de um futuro incerto.
Khaled Ezzelarab, também da BBC, disse ter visto pelo menos 140 corpos na mesquita de Eman, próxima ao local de um dos acampamentos.
Números diferentesSegundo o governo interino, que é apoiado pelos militares, 137 pessoas foram mortas no entorno da mesquita, 57 na Praça Nahda e 29 em Helwan, no sul do Cairo. As outras 198 mortes ocorreram em outras províncias.
Pelo menos 43 policiais estão entre os mortos, e o número de feridos chega a 3.572.
Lixeiros foram vistos limpando os restos dos acampamentos, enquanto os soldados desmontavam andaimes.
Os manifestantes vinham exigindo a volta de Morsi ao poder - ele foi deposto pelos militares no dia 3 de julho, um ano após ter sido eleito democraticamente.
Segundo o editor da BBC Jeremy Bowen, a Irmandade Muçulmana deve continuar com seus protestos.
"Eles esperaram 80 anos para tomar o poder no Egito, e agora sentem que o poder foi retirado deles de forma injusta", avalia Bowen.
Em um discurso transmitido pela televisão, o primeiro-ministro interino do Egito, Hazem Beblawi, defendeu a operação, e afirmou que as autoridades precisaram restabelecer a segurança.
Expressando pesar pelas mortes, ele disse que o estado de emergência nacional seria levantado assim que possível.
Irmandade MuçulmanaA Irmandade Muçulmana é uma orçanização islâmica que se opõe a tendências seculares e pretende retomar os ensinamentos do Corão, rejeitando qualquer influência ocidental. Em vários países, tem braços políticos. A organização foi fundada por Hasan al-Banna no porto de Ismailia em 1928 – depois se transferiu para o Cairo.
A preocupação inicial era oferecer serviços sociais, construir mesquitas, escolas e hospitais. Ao longo das últimas décadas, a Irmandade Muçulmana tornou-se a mais importante força política fundamentalista do mundo sunita, coim representações em dezenas de países.
Foi também o maior partido dissidente do Egito, passando da clandestinidade ao governo, para o qual foi eleito após a queda do regime liderado por Hosni Mubarak, que durou 40 anos. A Irmandade Muçulmana ficou apenas um ano no poder.
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