Índia lança nave para Marte
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Índia lança nave para Marte


Índia lança nave para Marte em demonstração de domínio tecnológico e militar
A índia pretende realizar hoje o seu maior feito espacial. Às 14h36m, no horário local (7h06m em Brasília); o país lançará sua primeira missão a Marte. Com o envio da sonda para o Planeta Vermelho, o governo indiano dá uma demonstração de poderio tecnológico e militar, visto como um recado para o vizinho e rival Paquistão. Se tiver êxito, a índia garante lugar no restrito clube de países capazes de lançar naves interplanetárias, o que demanda alta tecnologia.

Especialistas frisam que a expertise para lançamento de um foguete capaz de colocar uma sonda no espaço rumo a Marte pode ser adaptada para o lançamento de mísseis, inclusive os nucleares. A nave não tripulada indiana deve levar nove meses para chegar a Marte. Com a missão, a índia também entra na competição com os chineses, que têm declaradas ambições marcianas. Hoje, apenas EUA e Rússia já enviaram naves robóticas para Marte.

Na corrida interplanetária, a índia ainda está atrás da China. O país comunista é líder em tecnologia espacial na Ásia. Em 2003, realizou uma missão espacial tripulada. Quatro anos depois, pôs um satélite em órbita da Lua. A chegada a Marte, no entanto, pode demorar. O pouso de uma nave automática no planeta só deve ocorrer em 2020. E os astronautas só chegariam duas décadas depois.

A sonda indiana de 1,3 tonelada será lançada de uma ilha na Baía de Bengala. Ela orbitará a Terra até atingir a melhor posição para deixar a gravidade do planeta e viajar para Marte. Esta missão é considerada o primeiro passo para o lançamento, em 2016, de uma missão tripulada da índia à Lua.

O projeto custou US$ 73 milhões, um valor controverso. Para os críticos, o dinheiro seria mais bem empregado em programas sociais, em um país onde 40% das crianças são subnutridas e mais de metade da população não tem banheiro em casa.

— índia e China escolheram caminhos diferentes — destaca o astrônomo Naelton Mendes de Araújo, da Fundação Planetário. — A China foi a primeira a desenvolver um programa espacial. Tem foguetes mais poderosos e investe em voos tripulados, uma opção com maior peso político e apelo popular. A índia, por sua vez, prioriza o envio de sondas automáticas, que são mais baratas, conseguem ir mais longe e, por isso, estendem as áreas pesquisadas. Ambas beberam um pouco da tecnologia soviética às vésperas da queda do socialismo e têm grande potencial para a tecnologia espacial.

Araújo destaca que, apesar da rivalidade com países vizinhos, a índia está convertendo foguetes que tinham fins militares para seu programa espacial. Portanto, uma parte significativa do investimento tecnológico já foi realizado.

Para ele, a desigualdade social indiana não deve ser um obstáculo ao desenvolvimento de foguetes.

— Os EUA desenvolveram boa parte de seu programa espacial num momento de crise social e política — lembra. — A China, embora tenha se desenvolvido muito nos últimos anos, ainda tem milhões de pessoas em situação precária. Na índia, o lançamento de foguetes em órbitas estacionárias pode ser um investimento econômico a longo prazo.

APELO À POPULAÇÃO

Diretor da Organização de Pesquisa Espacial da índia (Isro), K. Radhakrishnan acredita que a missão espacial incentivará os indianos a estudarem o Planeta Vermelho.

— Queremos dizer à nossa população que Marte tem importância estratégica para nosso país — assegura. — A ciência leva ao entendimento. Fizemos um pequeno investimento per capita nesta missão, que é muito complexa.

Chefe da assessoria de Cooperação Internacional da Agência Espacial Brasileira (AEB), José Monserrat Filho critica a corrida espacial entre índia e China.

— Seria possível lançar mais sondas se houvesse uma cooperação entre as nações emergentes. Não faz sentido que todas corram separadamente para atingirem o mesmo desafio — critica Monserrat, que também é especialista em Direito Espacial.

Para Monserrat, a oposição entre as potências asiáticas pode prejudicar a união do programa tecnológico dos Brics, o bloco que abrange Brasil, Rússia, índia, China e África do Sul.

— Em vez de contribuírem para o desenvolvimento científico, índia e China estão mais preocupadas em medir forças — critica. — Já vimos este filme na Guerra Fria, com a disputa entre EUA e União Soviética, e ele não é bom.

Os avanços tecnológicos das nações asiáticas são monitorados pelos EUA. Com o fim dos ônibus espaciais, a Nasa ficou sem meios para enviar satélites ao espaço.

FONTE: O Globo - Renato Grandelle



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