A publicitária Mônica Moura, mulher e sócia do marqueteiro João Santana, disse em depoimento nesta quinta-feira ao juiz federal Sérgio Moro que a campanha eleitoral da presidente afastada Dilma Rousseff em 2010 teve recursos de caixa dois.
No depoimento, Mônica, que foi presa junto com o marido no âmbito da operação Lava Jato em fevereiro, disse que a empresa do casal recebeu de forma não contabilizada 4,5 milhões de dólares na conta de uma offshore pertencente a Santana na Suíça, referentes ao pagamento de uma dívida de campanha de 2010.
"Esse pagamento, excelência, foi referente a uma dívida de campanha que ficou, que o PT ficou devendo à gente na campanha de 2010, na campanha da presidente Dilma, a primeira campanha. Ficou uma dívida de quase 10 milhões de reais, que não foi paga e que demorou, foi protelada, e eu cobrei muito essa dívida", disse ela a Moro em depoimento gravado e anexado à ação penal a que o casal responde na Justiça Federal do Paraná.
"Foi caixa dois mesmo", disse ela quando indagada por Moro se os recursos haviam sido contabilizados pela campanha petista. Mônica também disse que os recursos também não foram declarados pela empresa do casal.
Mônica disse que o pagamento foi feito pelo empresário Zwi Skornicki, que foi indicado a ele pelo então tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso e já condenado na Lava Jato. De acordo com ela, Vaccari disse que Skornicki era um "grande empresário" que estaria disposto a "colaborar com o partido".
"No fim de dois anos de luta, eu tive uma conversa com o Vaccari, que era a pessoa responsável pelos pagamentos, era o tesoureiro da campanha na época, era quem acertava comigo os pagamentos de campanha e ele me mandou procurar um empresário, que queria colaborar com o partido, e que iria pagar a dívida de campanha, foi assim que eu cheguei ao senhor Zwi."
Skornicki, que foi representante de um estaleiro que tinha contratos com a Petrobras, espera a homologação de um acordo de delação premiada no âmbito da Lava Jato.
A publicitária disse que não tinha conhecimento da origem dos recursos e afirmou que Santana tinha conhecimento do pagamento não contabilizado. Santana foi marqueteiro das duas campanhas presidenciais de Dilma Rousseff, em 2010 e 2014, e da campanha para a reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006.
Em nota, o PT negou irregularidades nas contas de campanha de Dilma em 2010.
“Todas as operações do Partido dos Trabalhadores foram feitas dentro da legalidade. As contas da campanha eleitoral de 2010 foram inclusive aprovadas pela Justiça Eleitoral”, afirma a nota.
Inicialmente, em depoimento em inquérito policial, Mônica havia dito que os 4,5 milhões de dólares eram referentes ao pagamento de uma campanha eleitoral feita pelo casal em Angola. No depoimento desta quinta, ela reconheceu que esta versão não correspondia à verdade.
Ela disse que o pagamento por caixa dois é uma prática comum em campanhas eleitorais não só do PT, mas também de outros partidos.
A empresária disse ainda a Moro, quando indagada sobre um outro pagamento que teria sido feito na conta de Santana no exterior pela Odebrecht, alvo de outro processo na Lava Jato, que não falaria sobre este assunto, mas que está disposta a fazer um acordo de colaboração com a Justiça.
"Eu estou disposta a esclarecer todos os detalhes, todos os assuntos referentes também a esse processo mais adiante, mas fui orientada pelos meus advogados que estou disposta a colaborar o máximo possível com a Justiça, mas mediante um acordo com a Justiça", disse ela a Moro.
(Edição de Raquel Stenzel)
http://br.reuters.com/