O F-X2 está morto, vida longa ao F-XL…
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O F-X2 está morto, vida longa ao F-XL…


Conforme análise que desenvolvemos e publicamos ontem aqui no Poder Aéreo, as chances do programa F-X2 morrer são grandes diante da conjuntura nacional. Enquanto isso, parte da atual aviação de caça da Força Aérea Brasileira (FAB) praticamente agoniza na UTI com os Mirage 2000 que defendem o Planalto Central dando os seus últimos voos antes do pouso definitivo previsto para dezembro deste ano.

É claro que essa data final de voo dos chamados F-2000 poderia ser adiada com expedientes como a diminuição gradual da frota e consequente canibalização de exemplares desativados para manter outros voando, e até mesmo com a renovação de contratos de apoio logístico e de manutenção, realizando-se também as necessárias revisões para mantê-los em condições de voo. Mas a conta pode ser salgada, com benefícios questionáveis por serem caças que, apesar de terem o melhor desempenho no binômio velocidade / agilidade de todos os caças da FAB, contam com um conjunto radar / aviônicos / armamentos ultrapassado. Vale lembrar que vieram como “tampões”, como soluções temporárias decididas há cerca de oito anos.

Como será muito difícil que a população do Brasil saia às ruas para exigir do Governo uma atitude responsável pela defesa do espaço aéreo nacional, e assim pressionar os tomadores de decisão deste país por uma solução definitiva do programa, tudo leva a crer que mais uma vez surgirá a solução provisória. Em outras palavras, o “tampão” do “tampão” pode estar a caminho.

Deve-se levar em conta, porém, que apesar de um eventual cancelamento do programa F-X2 gerar um problema que novamente estouraria no médio / longo prazo, quando pensamos no curto prazo a solução provisória ou Plano “B” poderia agradar a “gregos e troianos” (neste caso seriam os “fabianos”). Primeiramente agradaria ao Comando da Aeronáutica e demais setores das Forças Armadas, pois demonstraria empenho do Governo para com a proteção do espaço aéreo, principal missão constitucional da Força Aérea Brasileira e que deveria justificar sua existência antes de qualquer outra missão.

Em segundo lugar, a decisão pelo Plano “B” passaria a impressão para o público em geral de que o Governo está ciente do problema da defesa aérea, mas que não gastará seus limitados recursos com a compra de novos caças, algo que muitos poderiam definir como gastos não prioritários. De certa forma, estaria “jogando para a torcida”.
Diante disso, surge o que nós denominamos de “Programa F-XL”. O F-XL seria o substituto do F-X2 e, ao contrário do anterior, poderia visar a aquisição de caças de segunda mão por leasing, modalidade escolhida no passado recente por vários países vivendo situação semelhante: um desses países sendo até um exemplo de nação com tradição aeronáutica e que participa de programas de caças, a Itália (um dos casos mostrados a seguir).

A aquisição pura e simples de mais um “caça tampão” é uma opção que se mostrou demasiadamente cara, como ficou evidente com a compra dos Mirage 2000 quando se leva em conta um período de tempo relativamente curto. A aquisição de caças através de leasing possui vantagens econômicas, pois não há o gasto com a aquisição do avião, e sim com um “aluguel” anual.

Nessa modalidade, valores para garantir a operação anual dos caças, por determinadas horas de voo por ano, podem ser previamente definidos no contrato, cobrindo assim “surpresas desagradáveis” que eventualmente podem aparecer, como caríssimas revisões de motores. Por último, contratos de leasing podem ser prorrogados conforme acordo entre as partes, sem que haja gastos de grande monta. Por um lado, pode haver restrições ao uso das aeronaves em determinadas situações e conflitos, conforme o contrato, mas por outro, até mesmo compensações industriais e outros “offsets” podem fazer parte do contrato.

Explicados os pontos principais dessa modalidade de aquisição de caças, o próximo passo seria definir quais seriam as opções de aeronaves disponíveis para leasing.

Russos

A Rússia já propôs o leasing de caças Su-27 ou MiG-29 para países em desenvolvimento e esses jatos poderiam ser opções. A grande capacidade de carga de combate e características destacadas de desempenho, particularmente do caça da Sukhoi, seriam vantagens.

A atual falta de familiaridade com caças russos, além da ainda pouca tradição no apoio logístico de aeronaves russas no Brasil poderiam ser problemas – porém, seria o caso de estabelecer um contrato baseado em disponibilidade e em determinado número de horas de voo. Além disso, gradativamente a FAB tem se familiarizado com o apoio logístico e de manutenção da Rússia, com a operação dos helicópteros AH-2 Sabre (Mi-35) adquiridos novos.

Americanos

A opção norte-americana mais provável seria o F-16, caça operado mundialmente em grandes quantidades e com exemplares estocados nos Estados Unidos, país que já têm a experiência de oferecê-los por leasing. A Itália recentemente finalizou seu contrato de leasing, considerado bem-sucedido no seu custo-benefício, de caças norte-americanos F-16. O acordo denominado “Peace Cesar” veio depois de um arrendamento considerado muito custoso, para caças “tampão”, de jatos Tornado da versão de defesa aérea, provenientes do Reino Unido. Os caças Tornado arrendados e depois os F-16 cobriram na Itália a lacuna entre a desativação dos últimos caças F-104 produzidos localmente e a ativação de novos jatos Eurofighter Typhoon nos esquadrões da Aeronautica Militare.
Também de origem norte-americana é o F/A-18 E/F Super Hornet, mas não há excedente deste nos EUA e, com os atrasos no programa do F-35, estas aeronaves vêm se tornando cada vez mais importantes e “insubstituíveis” no inventário da Marinha dos EUA (USN). O mesmo pode se dizer dos “legacy” Hornet, termo usado para as versões mais antigas do caça, cujo uso vem sendo esticado ao máximo na USN – isso porque deveriam ser substituídos por jatos F-35 mas, na prática, acabam dando lugar a novas encomendas de Super Hornet. Há exemplares de legacy Hornet estocados no Canadá, mas não é conhecido o interesse daquele país neste tipo de negociação.

Franceses

Deve-se levar em conta também modelos da família dos atuais “tampões”. Não há grande disponibilidade de caças Mirage 2000 mais modernos, ao menos nos estoques franceses. O Mirage 2000-5 poderia ser interessante, caso seja disponibilizado em breve (mas considera-se que jatos Mirage 2000N de ataque nuclear estejam na frente da fila para substituição pelo RAfale), mas os “traço cinco” franceses não são necessariamente aviões de pouco uso: são velhos modelos C modernizados na década de 1990.

Os jatos mais novos da família em operação na França são os Mirage 2000D, dedicados a missões de ataque e que deverão passar por modernização para torná-los multifuncionais, para continuar em serviço no Armée de l’air lado a lado com o Rafale. Nesse caso, ou não teriam serventia para as necessidades mais urgentes da FAB (por serem hoje aviões dedicados a ataque) ou só estariam disponíveis, modernizados, muito à frente. O que poderia estar “sobrando” na França seriam exemplares das mesmas versões C e B que o Brasil opera, provenientes de esquadrões recentemente desativados ou ainda operando num esquadrão de conversão operacional francês (de onde já vieram os que hoje são usados na FAB). Mas seria trocar “seis por meia dúzia”, caso estejam com horas de voo disponíveis antes de grandes revisões – e é justamente prevendo esses momentos que normalmente se organiza a desativação de caças.

Suecos

O que se tem conhecimento é de que a Suécia pratica a modalidade de leasing e tem disponíveis caças do modelo Gripen C/D para “alugar”. Por decisão do Governo Sueco, a Força Aérea daquele país reduziu em muito o tamanho de sua aviação de caça, gerando excedentes de aeronaves. Parte delas foi arrendada para as Forças Aéreas da Hungria e da República Checa (embora jatos novos tenham feito parte dos pacotes, conforme o caso). A República Tcheca e a Hungria operam 14 aeronaves cada (sendo duas do modelo biposto e 12 do monoposto).

Notícias desmentidas recentemente davam como certo o leasing de caças Gripen para a Malásia. Mas o que se sabe realmente é que uma proposta de leasing de oito caças Gripen foi feita no final do ano passado para a Croácia . Porém, a falta de orçamento do país levou a uma decisão de modernizar seus velhos jatos MiG-21. De qualquer forma, as recentes ofertas demonstram a existência de aeronaves para leasing.
E quanto custa um leasing de caças? A resposta depende muito de cada aeronave e o que estes acordos incluem (no caso da proposta para a Croácia houve até a possibilidade de compra de estaleiro croata pela Saab). Mas, tomando-se como base alguns acordos já feitos, como o caso do leasing húngaro, o valor pode chegar a 104 milhões de dólares anuais para um esquadrão. Para saber mais sobre esses acordos (incluindo “Peace Cesar” italiano veja os links ao final).

Quantos caças teríamos que alugar e por quanto tempo? Depende do que se espera para um “tampão do tampão”. Caças provisórios são pensados justamente para cobrir lacunas antes de novas aquisições, “definitivas”, chegarem para o serviço. Há casos em que contratos de dez anos de duração são renovados por outros tantos, constituindo-se até numa solução praticamente definitiva. A Hungria recentemente renovou o leasing de seus jatos Gripen, e a República Tcheca, apesar de negociar duramente com os suecos, caminha para o mesmo sentido. Mas nem um país nem outro tem um programa estabelecido, ou pelo menos visto seriamente pelo mercado, para adquirir novos caças, e suas necessidades vêm sendo cobertas por apenas um esquadrão cada um.

A Itália recebeu por leasing caças F-16 para equipar mais de um esquadrão e, conforme as entregas de Typhoons tornaram-se suficientes, devolveu parte dos jatos aos Estados Unidos e, por fim, todos eles. Nos casos citados, então, houve uma manutenção ou diminuição dos números com o tempo. E no caso do Brasil? Talvez o inverso tenha que ser necessário, se nenhum outro programa de aquisição “definitiva” se apresente. Isso porque há uma urgência para reequipar o 1º GDA de Anápolis, mas os esquadrões que voam atualmente o F-5EM/FM também terão que dar baixa em parte de seus caças daqui a alguns anos (e, no médio prazo, em todos eles). Assim, o leasing de uns 12 jatos (dotação atual do 1º GDA) seria solução provisória para apenas parte do problema. Talvez venha a necessidade de ir na “contra-mão” dos exemplos de outros países e alugar cada vez mais caças, ao invés de cada vez menos, se uma solução de leasing “pegar”. Nesse sentido, pode-se questionar se a aquisição de soluções “provisórias” via leasing seria adequada, por haver grandes chances (ou necessidades) do caça provisório virar permanente e se multiplicar pelos esquadrões.

Para quem acha que o leasing de aeronaves de caça é uma opção pouco provável para o Brasil, lembramos que o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, esteve na República Tcheca em 2011 visitando exatamente um esquadrão de Gripen e avaliando o programa de leasing daquele país do Leste Europeu. E, já naquela época, o Poder Aéreo alertava sobre o caso. Em nota, foi dito o seguinte: “os Mirage 2000 da FAB só vão operar até 2012 (sic). Será que poderemos ter Gripen C/D no Planalto, antes do F-X2?” Hoje, a pergunta poderia ser: será que poderemos ter algum caça via leasing após o cancelamento do F-X2?

Como tratamos mais de exemplos recentes e conhecidos envolvendo leasing de caças Gripen e F-16, optamos por ilustrar esta matéria com fotos dessas duas aeronaves. Mas exemplos citados como o Su-27 , Mirage 2000 ou mesmo outros que possam ser levantados pelos leitores, devem ser discutidos. Por fim, deixamos claro que o Poder Aéreo não deseja, com essa matéria, defender a opção de equipar a FAB com caças via leasing e muito menos defender algum tipo específico de caça nessa modalidade. Desejamos apenas fazer algumas perguntas incômodas, que precisam de respostas num momento de possível morte do F-X2. Aos nossos leitores, desejamos um bom debate em busca dessas respostas.

Poder Aéreo



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