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Objetivamente
As pessoas me perguntam se torço pelo filme ou pelo Tarantino. Se meu voto e minha torcida são incondicionalmente direcionados, não importando quais os filmes concorrentes.
A resposta é não.
Dado o meu comportamento frenético, pra dizer o mínimo, em relação a Bastardos Inglórios e Django, entendo a dificuldade em acreditar na minha objetividade.
Ocorre que Tarantino está amadurecendo sua arte. Aguardo com imensa expectativa e acompanho com imenso prazer as suas produções mais recentes. Bastardos Inglórios e Django, hoje, são o ponto máximo de qualidade de sua obra.
Claro que reconheço, aprecio e admiro a genialidade e delícia de Cães de Aluguel e Pulp Fiction. Mas tem ali a ânsia do discurso, o frio na barriga e o talento represado de um gênio que tem muito a dizer e a mostrar e apenas duas horas pra isso.
A partir de Kill Bill ele está solto. Brinca com suas referências, mistura veículos e linguagens e costura sua história com linhas de todas as cores. E, principalmente, sabe que já chegou lá e este lugar já conquistado permite que ele conte quantas histórias ainda quiser, da forma que imaginar.
Se os irmãos Coen são o Rembrandt do cinema, Tarantino é Pollock. Nada é contido. Tudo é exagero, cor, sangue, personagens bizarros e todas as músicas do mundo misturados de tal forma que só a sua condução precisa permite que esse emaranhado de cores formem a delícia de um filme como Django, por exemplo.
Respondendo a outra pergunta, não, eu não acho que todos os filmes de Tarantino mereçam ser premiados.
Jackie Brown, por exemplo, eu gosto, me divirto, mas reconheço que não é filme que possa pretender premiação. Curiosamente é o único roteiro adaptado.
Existem critérios objetivos sob os quais os filmes podem ser avaliados.
Um filme é uma forma de se contar uma história. Partindo desse ponto, uma boa história é pressuposto básico essencial para um bom filme. A academia e o mundo reconhecem que Tarantino conta uma história como poucos. Seu roteiro é premiado e aclamado.
Outro critério objetivo para se julgar um filme são seus personagens. Além de usar muito bem figurinhas fáceis de Hollywood, Tarantino ressucita do ostracismo atores que viram deuses em papéis memoráveis em seus filmes, descobre preciosidades européias como o eterno coronel Landa, já premiado com dois Oscars e cria tipos tão improváveis quanto inesquecíveis como um escravo que vira cowboy e sai em busca de sua amada de parceria com um alemão, encarnando uma lenda germânica em pleno Mississipi.
Diálogos e apresentação de personagens é o que dá ritmo e sabor a um filme. Além de personalizá-lo. É só pensar o quanto determinadas falas contribuíram para eternizar centenas de filmes e quantos atores são lembrados por seus personagens. E do Tarantino é sua arte maior.
Trilha sonora é outro critério que não pode ser desprezado. Ninguém ainda compôs uma trilha sonora para o Tarantino. Ele atua como um DJ maluco juntando todos os sons e ritmos numa farofa criativa que explode na tela conduzindo a cena de maneira inimaginável.
Agora junte todos os critérios acima e aplique a cada filme que concorreu ao Oscar desse ano, inclusive e principalmente ao que ganhou.
Muito bem.
Atente também para o fato de que Quentin, o Tarantino sequer foi indicado como diretor.
Daí, me respondam: é ou não é motivo pra ficar puta???!!!
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