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PAMA-SP 2013: os últimos jordanianos e o mistério da asa extra
No dia 29 de setembro de 2013, o Parque de Material Aeronáutico de São Paulo (PAMA-SP) abriu seus portões ao público no seu tradicional “Domingo Aéreo”. Um dos atrativos do evento, no solo, é visitar o hangar onde são realizadas as revisões nível parque dos caças F-5 da Força Aérea Brasileira (FAB), e sempre aproveitamos nossas visitas ao PAMA-SP para trazer novidades aos leitores do Poder Aéreo, seja em ocasiões de eventos como esse ou em outras oportunidades.
Em matéria anterior – clique no primeiro link da lista abaixo para acessar – falamos sobre os caças F-5M (modernizados) em revisão, e hoje vamos tratar do andamento dos trabalhos de revitalização de células do lote comprado em 2008 na Jordânia (8 monopostos F-5E e 3 bipostos F-5F), preparação necessária para envio às instalações da Embraer em Gavião Peixoto (SP), para instalação dos novos sistemas eletrônicos, radares, e outros itens do pacote de modernização.
No final do mês passado, quando do evento, estavam passando pelos trabalhos de revitalização as últimas quatro células do lote comprado na Jordânia, todas do modelo monoposto F-5E. Três bipostos e quatro monopostos do lote já não estão mais no PAMA-SP, justamente as aeronaves que em anos anteriores (veja outras matérias nos links ao final) estavam em estágio mais avançado de revisão e reparos.
Um mês antes do evento do final de setembro, quando realizamos uma visita à Comunicação Social do PAMA-SP para entrega de exemplares da revista Forças de Defesa, pudemos ver fora do hangar uma fuselagem com trabalhos aparentemente completados, acondicionada juntamente com asas e profundores numa carreta para transporte. Apesar de uma cobertura de lona não deixar ver detalhes, pelo formato pudemos constatar que se tratava de um monoposto. Vale acrescentar que, quase na mesma época, um F-5EM (M de modernizado, ou “Mike”) já revisado foi transportado em carreta para a Base Aérea de São Paulo – BASP.
Mas nesse caso, como é de praxe no transporte à BASP, as asas e outras superfícies de controle não estavam desmontadas, ao passo que os exemplares jordanianos revitalizados que seguem para Gavião Peixoto são transportados com as asas desconectadas da fuselagem, para mais segurança na viagem dez vezes maior (Gavião Peixoto dista mais de 300km de São Paulo, enquanto o PAMA-SP e a BASP são separados por menos de 30km) – exatamente como o que vimos na carreta. Assim, tudo indica que era mais um “ex-jordaniano” a caminho da modernização, em mais uma evidência do andamento dos trabalhos do Parque.
Voltando à nossa última visita ao PAMA-SP, no último Domingo Aéreo: das quatro células que estavam no Parque, três eram vistas ocupando uma das laterais do grande Hangar 3 “Major Santos”, onde ficam os exemplares desmontados. Pelas informações prestadas por pessoal do PAMA-SP quando de nossa visita, um quarto exemplar não se encontrava no hangar por estar passando por inspeções de raio-x, em outra área do Parque. Nessas inspeções, podem ser encontradas irregularidades como fissuras que indiquem fadiga do material, assim como outras que indiquem as áreas que necessitem passar por tratamento e reparo.
A célula mais visível de todas, na ocasião, era a que recebeu a matrícula FAB 4884, que pode ser vista nas três fotos acima. Nestas imagens, percebe-se que toda a tinta da camuflagem jordaniana foi retirada para revelar o metal, e que os equipamentos (como aviônicos, motores, assento e outros sistemas) foram retirados. Essas peças seguem para diversos setores onde são inspecionadas, reparadas ou substituídas, conforme o caso, para serem depois instaladas na linha de montagem adjacente. Já a célula inspecionada recebe marcações em locais específicos sobre os serviços a realizar, como se pode ver nas duas fotos abaixo. Clique para ampliar.
Próximos ao 4884, estavam outros dois exemplares que, ao contrário deste, pouco podiam revelar de informações sobre áreas que deverão passar por reparos, pois estavam cobertos em grande parte por plástico preto. A foto abaixo mostra as duas células. A cobertura com plástico se faz necessária principalmente nas células que ainda estejam aguardando por mais tempo algum tipo de trabalho (tanto o reparo como, no caso das já revitalizadas, a montagem dos componentes), para preservá-las do eventual “bombardeio” realizado por pombas e outros pássaros que, vez por outra, entram no hangar. Ainda assim, algumas pequenas partes da fuselagem reveladas pelas brechas do plástico mostravam a pintura jordaniana já retirada, como também se vê nas superfícies verticais que, no final do ano passado, ainda exibiam a camuflagem original.
Falando em diferenças em relação ao ano passado, esse número de quatro células “ex-Jordânia” no PAMA-SP é bem menor do que se via na última vez em que tivemos oportunidade de tirar fotos no Hangar 3, em dezembro de 2012. Naquela ocasião, apenas um dos F-5F havia sido enviado para Gavião Peixoto, enquanto outro (visto na foto ao lado, tirada naquela oportunidade) já se encontrava acondicionado numa carreta, com asa e profundores desmontados e pronto para envio . Já o terceiro biposto do lote estava em final de montagem de seus componentes. Também eram vistos dois monopostos F-5E já com célula recuperada e pintura “primer” aplicada, enquanto a maior parte dos demais F-5E ainda aguardava a retirada da pintura.
Quanto aos quatro que restam atualmente, o pessoal do PAMA-SP nos informou que deverão seguir ao longo do ano que vem para Gavião Peixoto, atendendo à programação de modernização do lote comprado da Jordânia. Isso porque aquelas instalações da Embraer já se ocupam de sete aeronaves dos onze exemplares “ex-jordanianos” e o envio de mais células deve atender a um cronograma. O comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Juniti Saito, afirmou recentemente que o primeiro exemplar modernizado do lote deverá ser entregue pela Embraer ainda neste ano.
Há pouco tempo, o Poder Aéreo chegou a receber informações de algumas fontes da FAB indicando que, talvez, nem todo o lote adquirido na Jordânia poderia seguir para modernização. Como o cruzamento com outras fontes não comprovava a informação de maneira cabal, aguardamos essa oportunidade para conferir o andamento do programa no próprio PAMA-SP, onde o pessoal responsável nos disse não haver, por hora, nenhum problema grave encontrado com as células, apenas as necessidades já esperadas de reparos e tratamentos, pelos quais já passaram os exemplares enviados para modernização.
O mistério da asa extra
Quando se fala em reparos mais importantes em caças F-5 da FAB, é comum fazer referência à substituição de longarinas das asas e das fuselagens de alguns caças do segundo lote, adquiridos usados dos EUA no final da década de 1980, após terem servido em unidades “Aggressor”. Com muitos voos acumulando grandes cargas G nos combates aproximados, em que serviam como adversários de caças da linha de frente da USAF (Força Aérea dos EUA), as aeronaves daquele lote deram bastante trabalho ao PAMA-SP na década de 1990, para deixar os aviões em condições de voo.
Por isso, asas das aeronaves em revisão / revitalização no Parque sempre atraem nosso olhar, e não foi diferente desta vez, quando reparamos em algo curioso: contamos seis conjuntos de asas de F-5 (a asa direita e a esquerda são unidas por uma seção central, formando um conjunto único) no Hangar 3, o que contrastava com as cinco fuselagens sem asa no Parque (um exemplar de lote anterior já modernizado, o FAB 4876, que mostramos em matéria anterior, os três “ex-jordanianos” visíveis no hangar e o quarto que estava em inspeções de raio-x numa outra área, conforme nos foi dito).
Em resumo: havia uma asa sobrando! Na foto acima, tirada mais próximo de uma das saídas laterais do hangar, pode-se contar cinco conjuntos de asas, enquanto a imagem abaixo mostra o sexto conjunto, em outra área, mais perto de onde estavam duas células de F-5E. Qual seria a explicação para esta asa “extra”? Alguma aeronave desativada, por exemplo?
O pessoal do PAMA-SP explicou a razão dessa asa a mais: um dos exemplares do segundo lote (ex-”Aggressor”) teve sua asa condenada, tempos atrás. A solução para colocar a aeronave em condições de voo no curto prazo foi adquirir uma asa no mercado de sobressalentes do F-5, o que foi conseguido.
Porém, o PAMA-SP assumiu a responsabilidade de restaurar a asa defeituosa, realizando trabalhos de precisão como o de substituição de longarina já feito em exemplares daquele lote, anos antes. As informações que nos repassaram são de que esse trabalho foi bem-sucedido, e que agora esse conjunto de asas é mantido como sobressalente para qualquer eventualidade.
Poder Aéreo
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