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Rússia e Ucrânia: o segundo tempo começou
A convite do presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, participou em Minsk da reunião dos presidentes dos três países da União Aduaneira (o anfitrião Lukashenko, da Bielorrússia, Vladimir Putin, da Rússia, e Nursultan Nazarbayev, do Cazaquistão). A reunião aconteceu nesta terça-feira, 26 de agosto.
Foi a oportunidade para reiterar o convite dos três líderes para que a Ucrânia volte a se voltar para a União Aduaneira, a entidade que, a partir de 1.º de janeiro de 2015, passará a se chamar Comunidade Econômica Euroasiática.
Convite, evidentemente, não aceito, porque Petro Poroshenko vai mesmo associar a sua Ucrânia à União Europeia. Mas a oportunidade também serviu para que Putin dissesse a Poroshenko que as portas da Rússia estão abertas para negociações com a Ucrânia, com a ressalva de que estas negociações fluiriam melhor sem a formalização da parceria Kiev-Bruxelas.
Muito mais do que possíveis acordos econômicos, renegociações de dívidas e perspectivas de futuros empreendimentos comuns, a participação de Petro Poroshenko na reunião dos líderes da União Aduaneira marcou o início do segundo tempo do chamado “jogo jogado” entre Rússia e Ucrânia.
Lukashenko, partidário de uma solução pacífica entre os dois países, cumpriu o que havia proposto a Putin e Poroshenko, oferecendo a sua casa (Minsk, Bielorrússia) para uma conversa franca entre os dois chefes de Estado com os quais mantém constante diálogo.
O jogo entre Rússia e Ucrânia, pela sua longa duração, tem tudo para entrar para o Livro Guiness dos Recordes: o primeiro tempo começou em 21 de novembro de 2013, quando o então presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, anunciou a suspensão dos entendimentos para uma possível associação do país com a União Europeia. Simultaneamente, Yanukovich informava que a Ucrânia estava recuperando o diálogo com a Rússia e que, para princípio de conversa, o colega Putin já havia acenado com a possibilidade de reduzir para 285 dólares o preço cobrado pela Gazprom por cada mil metros cúbicos de gás fornecidos à Ucrânia.
A partir daí, aconteceu uma sucessão de cartões amarelos. Vieram as manifestações de rua em Kiev, na famosa Praça Maidan (ou Euromaidan, como ficou conhecida), os confrontos com a polícia, as prisões de oposicionistas, até que, nos dois primeiros meses de 2014, a situação se tornou insustentável. Em 28 de janeiro, o então Primeiro-Ministro Mykola Azarov pediu demissão, alegando cansaço e impotência diante das pressões políticas. Menos de um mês depois, em 22 de fevereiro, quem caiu foi o próprio Yanukovich. A queda aconteceu apenas um dia depois de ele ter aceitado firmar um pacto com a oposição, fazendo a Ucrânia retornar à Constituição de 2004 e, consequentemente, fortalecendo os poderes do Legislativo.
Resultado: no dia 22 de fevereiro, o presidente do Parlamento, Olexander Turchynov, anunciou a deposição de Viktor Yanukovich e que o novo primeiro-ministro do país seria Arseny Yatsenyuk, um dos líderes das manifestações da oposição na Praça Maidan. No mesmo dia, a ex-Primeira-Ministra Yulia Timoshenko era anistiada, e a sua pena de sete anos de prisão, estabelecida em 2011, foi declarada extinta.
Prossegue o primeiro tempo. Em 16 de março, a população da Crimeia e de Sebastopol diz em referendo que deseja se reintegrar à Rússia e deixar a Ucrânia. Num efeito cascata, as regiões de Donetsk e Lugansk aderem à iniciativa e, posteriormente, anunciam sua emancipação política, a vontade de também se integrar à Federação Russa (o que a Rússia não aceitou) e a constituição do Estado independente – e ainda não reconhecido – da Novo Rossyia, a Nova Rússia.
Em meio a tudo isso, ocorrem (e continuam ocorrendo) confrontos sangrentos entre grupos separatistas e militares leais ao governo de Petro Poroshenko, eleito em 25 de maio presidente da Ucrânia e empossado em 7 de junho.
Como se não bastasse, jornalistas russos são presos (alguns, mortos) na Ucrânia e recebem a “sugestão” de não voltar ao país.
Fim do primeiro tempo. E agora é o segundo tempo que está em andamento. Em Minsk, Poroshenko falou em propostas de paz para o seu país, mas é consenso entre os analistas políticos que esta paz entre russos, ucranianos, governo, militares e grupos separatistas não acontecerá tão já. A crise, pelo visto, precisa amadurecer.
O segundo tempo promete ser longo, e tudo indica que haverá prorrogação. Se nem assim a situação se resolver, a decisão será nos pênaltis. E, nos pênaltis, vence o que erra menos.
Diário da Rússia
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