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Rússia prepara-se para voltar a combater terroristas em Aleppo
Alexander Mercuris (The Duran) in The Vineyard of the Saker
Terroristas atacam, e trégua na região aproxima-se do colapso
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
Crescem os sinais de que os russos estão prestes a reiniciar o bombardeio em grande escala na e em torno da cidade síria de Aleppo.
O contexto é um acordo firmado por EUA e Rússia em fevereiro. O acordo determinava "cessação de hostilidades" entre as várias facções de terroristas sírios; e a Rússia comprometia-se a desescalar a campanha de bombardeio na Síria.
"Cessação de hostilidades" não era, nem foi concebida para ser, algum tipo de cessar-fogo. Isso, porque os dois maiores grupos de terroristas que lutam contra o governo sírio – o Daech ("Estado Islâmico", também conhecido como ISIS) e a franquia local síria da Al-Qaeda, a Frente Al-Nusra – foram expressamente excluídos do acordo. O Conselho de Segurança da ONU já declarara aqueles dois grupos "organizações terroristas", e nenhum dos dois grupos era parte do acordo de "cessação de hostilidades". De fato, os dois grupos protestaram contra o acordo.Parte fundamental do acordo de "cessação de hostilidades" era que os EUA trabalhariam para persuadir os vários grupos que eles apoiam na Síria – os tais chamados "moderados", que constituem o chamado "Exército Sírio Livre" – a conseguir extrair membros seus, daqueles dois grupos terroristas.
A causa pela qual os russos agora já se preparam para retomar o bombardeio em Aleppo e nos arredores da cidade é que essa 'extração' dos chamados "combatentes moderados" jamais aconteceu; e eles continuam incorporados ao Daech e à Frente Al-Nusra em Aleppo e nos arredores da cidade. Combatentes de vários grupos sírios permanecem misturados e nunca deixaram de guerrear sob as bandeiras dos terroristas.
Quanto aos EUA, há pouca, praticamente nenhuma, prova de que tenham realmente feito qualquer esforço sério para persuadir os chamados "combatentes moderados" que os norte-americanos apoiam a separar-se do Daech ou da Frente Al-Nusra. Bem diferente disso, todo o peso da atividade diplomática dos EUA durante as últimas semanas concentrou-se em tentar dissuadir os russos de atacarem a Frente Al-Nusra dentro e nos arredores de Aleppo, sob o 'argumento' de que os russos poderiam ferir os chamados "combatentes moderados".
Para avaliar o quanto esse 'argumento' é espantoso, considere-se apenas que os EUA até hoje, jamais, em tempo algum, em todas as campanhas aéreas de ataque que comandaram em países no Oriente Médio – fosse contra os Talibã no Afeganistão ou no Iraque ou na Líbia ou na Síria – jamais sequer tentaram diferenciar entre "militantes" e "moderados".
Quando os EUA bombardearam o Afeganistão em 2001, depois dos ataques terroristas do 11/9, a posição deles foi absolutamente clara: bombardearam os Talibã onde estivessem; e em nenhum desses pontos fizeram qualquer distinção entre facções supostas militantes e supostas moderadas. Interessados em escapar das bombas que se escafedessem. Isso, apesar do fato de que sempre se soube que havia facções diferentes dentro dos Talibã – na verdade, uma coalizão pouco rígida de diferentes grupos –, e apesar do fato de que a Al-Qaeda (alvo nominal de toda a campanha) e os Talibã serem organizações distintas. Qualquer sinal de que os Talibã e a Al-Qaeda estivessem fisicamente próximos ou conectados bastava para que os EUA bombardeassem tudo e todos.
O fato de os EUA terem pressionado os russos para que desistissem de bombardear a Frente Al-Nusra – que é a Al-Qaeda na Síria – passou praticamente sem qualquer registro ou comentário no ocidente ou nos EUA. As famílias das vítimas dos ataques de 11/9 ou, mesmo, os soldados que combateram contra os Talibã e a Al-Qaeda no Iraque e no Afeganistão e suas famílias – com certeza se sentiriam traídos, se algum dia soubessem que na Síria, hoje, os EUA protegem a Al-Qaeda.
Longa lista de protestos e mensagens enviados pelo ministro de Relações Exteriores da Rússia Sergey Lavrov sugere que os russos aproximam-se do ponto em que a paciência se esgota completamente. Lavrov já deixou bem claro que os russos estão considerando que os EUA já violaram o acordo para "cessação de hostilidades" que firmaram com os russos, em fevereiro.
Os russos também veem o que, afinal, é óbvio: que a Frente Al-Nusra usa qualquer cessação dos bombardeios para se reequipar e reposicionar para lançar novos ataques contra posições do exército sírio. Sobretudo que, quando agem desse modo, os terroristas que os EUA chamam de "combatentes moderados" cooperam com ela. Há bem pouco tempo, terroristas da Frente Al-Nusra, em cooperação com gente de um dos grupos chamados "moderados" atacaram uma vila alauíta e, todos eles em associação, massacraram 19 moradores civis da cidade, inclusive velhos e crianças.
Aqui, é preciso dizer algo sobre a real situação na Síria: as forças chamadas "moderadas" das quais os EUA e a mídia-empresa ocidental tanto falam simplesmente não existem.
O colapso da autoridade do governo sobre parte do território da Síria significa que milícias em diferentes vilas e cidades impõem-se nos vazios de autoridade que surgem em diferentes partes do país. Algumas daquelas milícias se autoapresentam como ligadas ao "Exército Sírio Livre", para ganhar acesso aos suprimentos que chegam do ocidente, muitas outras são apresentadas pelos EUA, como se constituíssem uma força coerente e unida de combate, o que não são. Essas milícias são focadas exclusivamente nos próprios distritos onde operam e não têm envolvimento maior na guerra.
Como nossa colaboradora Afra’a Dagher – que, de fato, é jornalista síria com base na Síriaescreveu, os combatentes realmente rebeldes – vale dizer, os combatentes que realmente combatem contra o exército sírio e querem derrubar o governo sírio – se autodesignam cada vez como membros de grupos diferentes, mas na realidade são sempre a mesma gente.
Para atrair combatentes e receber armas e suprimentos doados pelo Golfo e de outros locais, eles se declaram "Daech" ou – se estão lutando perto de Aleppo –, "Frente Al-Nusra", ou qualquer dos incontáveis nomes pitorescos que os grupos jihadistas extremistas na Síria gostam de usar quando lhes parece conveniente. Quando querem impedir que a Força Aérea Russa os bombardeie, ou quando precisam receber apoio diplomático dos EUA ou da Turquia ou do ocidente, fingem ser "moderados" e se autodesignam "Exército Sírio Livre".
Como o próprio presidente Putin da Rússia disse em recente discurso à Assembleia Geral da ONU, "aquelas pessoas são gente dura e cruel, mas não são pessoas 'primitivas' ou 'atrasadas'."
EUA e russos sabem disso, perfeitamente bem. Os dois lados, por diferentes razões abraçaram a ficção de que haveria "combatentes moderados" na Síria, que poderiam ser distinguidos dos jihadistas armados. Os EUA o fazem porque sua prioridade é derrubar o governo da Síria, não derrotar algum jihadismo violento. Os russos o fazem porque sempre buscaram uma solução diplomática para o conflito sírio, que envolveria os apoiadores dos rebeldes – Arábia Saudita e EUA –, solução negociada que os russos veem como único modo seguro de pôr fim à guerra.
Mas notícias de uma grande ofensiva dos terroristas contra os distritos curdos de Aleppo que circularam nos últimos dias deram cabo da paciência dos russos. Dado que o engajamento diplomático com os EUA não conseguiu impedir aquela ofensiva, os russos agora já anunciam que os bombardeios devem recomeçar a qualquer momento.
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