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Sarney e Machado esbravejam contra 'ditadura da justiça' em mais um áudio, leiam a conversa
Sérgio Machado vem tirando o sossego de políticos. Com um gravador escondido, ele registrou articulações pra tentar barrar as investigações da Lava Jato. Isso aconteceu em reuniões em Brasília-DF, na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros e na casa do ex-presidente da República, José Sarney.
Machado foi senador e presidente da Transpetro. A empresa contratou outras empresas que, por sua vez, apoiaram o PMDB com dinheiro. Ele disse que foi atrás da cúpula do partido porque tinha medo de ser preso e do que viria nas próximas delações.
Atualmente, como delator da Lava Jato, Machado entregou à Procuradoria Geral da República diversas gravações que contém conversas de conteúdo confidencial entre ele e ex-aliados.
Em um encontro com o presidente do Senado Renan Calheiros, investigado na Lava Jato, os dois xingam Rodrigo Janot, procurador-geral da República:
MACHADO - Agora esse Janot, Renan, é o maior mau caráter da face da terra.
RENAN - Mau caráter! Mau caráter! E faz tudo que essa força-tarefa [Lava Jato] quer.
MACHADO - É, ele não manda. E ele é mau caráter. Ele quer sair como herói. E tem que se encontrar uma fórmula de dar um chega pra lá nessa negociação ampla, pra poder segurar esse pessoal (Lava Jato). Eles estão se achando donos do mundo.
RENAN - Donos do mundo.
Renan Calheiros disse por meio de nota que nunca tomou qualquer iniciativa para dificultar a Lava Jato. O presidente do Senado disse ainda que a indicação de Sérgio Machado para a Transpetro foi uma iniciativa da bancada do PMDB e não dele, pessoalmente.
Em fevereiro e março deste ano, Sérgio Machado se encontrou com o ex-presidente Sarney. E também gravou as conversas:
MACHADO - Meu presidente, que saudade.
SARNEY - Como tá você?
Os dois falam sobre a situação da presidente Dilma Roussef - que ainda não tinha sido afastada - e se referem à prisão do publicitário João Santana, marqueteiro do PT:
MACHADO - A Dilma não tem condição. Nesse caso do marqueteiro, ela não teve um gesto de solidariedade com o cara. Ela não tem solidariedade com ninguém não, presidente.
SARNEY - E nesse caso, ao que eu sei, é o único que ela tá envolvida diretamente.
A presidente afastada, Dilma Rousseff, disse que todos os pagamentos feitos ao publicitário João Santana foram regulares e contabilizados na prestação de contas apresentadas á Justiça Eleitoral. E que a tentativa de envolver seu nome em situações que nunca participou são escusas e demonstram interesses inconfessáveis.
A conversa continua com especulações sobre quem venceria uma eventual eleição. Eles dizem que, no final, quem vai assumir a presidência será Eduardo Cunha. Mostrando que os dois não tinham ideia do que estava prestes a ocorrer na política - Cunha caiu antes mesmo de Dilma ser afastada com o processo de impeachment.
Machado - Saindo o Michel, e aí como é que fica? Quem assume?
SARNEY - Eleição. E vai ter muito, um Joaquim Barbosa desses da vida.
MACHADO - Ou um Moro... O Aécio pensa que vai ser ele, não vai ser não.
SARNEY - Não, não vai ser ele, de jeito nenhum!
MACHADO - E quem que assume a presidência, se não tem ninguém?
SARNEY - O Eduardo Cunha.
MACHADO - E ele não vai abrir mão de assumir, não.
SARNEY - Não. No Supremo não tem ninguém que tenha competência pra tirá-lo. Só se cassarem o mandato dele. Fora daí, não tem. Como é que o Supremo vai tirar o presidente da Casa?
Neste outro trecho, Sarney e Machado reclamam que Dilma insiste em permanecer no governo diante da crise política e econômica. O ex-presidente Sarney diz que não só empresário e políticos devem pagar pelos mal feitos na Petrobras, mas o governo também.
SARNEY - Ela não sai. Resiste. Diz que até a última bala.
MACHADO: Não tem rabo, não tem nada.
SARNEY - Acha que não tem rabo! Tudo isso foi... É o governo, meu Deus! Esse negócio da Petrobras são os empresários que vão pagar, os políticos! E o governo que fez isso tudo?
MACHADO - Acabou o Lula, presidente.
SARNEY - O Lula acabou. O lula, coitado, ele está numa depressão tão grande.
MACHADO - O Lula. E não houve nenhuma solidariedade da parte dela.
A conversa continua. Eles reclamam que ninguém se manifesta contra as decisões de Sérgio Moro. Criticam as decisões da Justiça que estão combatendo a corrupção. Classificam a situação como uma ditadura da justiça:
MACHADO - Não teve um jurista que se manifestasse. E a mídia tá parcial assim. Eu nunca vi uma coisa tão parcial. Gente, eu vivi a revolução (...) Não tinha esse terror que tem hoje, não. A ditatura da toga tá...
SARNEY - A ditadura da Justiça tá implantada. É a pior de todas!
MACHADO - E eles vão querer tomar o poder. Pra poder acabar o trabalho.
O juiz Sérgio Moro não quis se manifestar.
O Instituto Lula declarou que quem tem de explicar essas notícias são aqueles que o Instituto chama de "beneficiários da aliança entre os partidos golpistas e os setores mais corruptos da política brasileira". O Instituto afirma que foram eles que afastaram a Dilma Rousseff com o objetivo, segundo o Instituto, de controlar as instituições, barrar a operação Lava Jato e restabelecer a impunidade.
José Sarney, também por meio de nota, disse que conhece Sérgio Machado há muitos anos. Foram colegas no Senado e sempre tiveram uma relação de amizade. E que as conversas que teve com ele foram marcadas pelo sentimento de solidariedade.
Sérgio Machado ainda não é investigado formalmente no Supremo. Mas o procurador-geral da república, Rodrigo Janot, pediu a inclusão do nome dele no principal inquérito da Lava Jato. Ele também foi citado por pelo menos três delatores.
Machado fez a delação premiada para uma possível redução de pena, no caso de ser condenado. E agora, com essa nova delação, o procurador Rodrigo Janot pode pedir a abertura de novos inquéirtos, incluvir provas nas investigações já abertas ou mandar as citações sobre pessoas sem foro privilegiado para o juiz Sérgio Moro, em Curitiba-PR - de quem Machado queria se livrar.
OUÇA A CONVERSA AQUI
27/05/2016 06h55 - Atualizado em 27/05/2016 08h10
Sarney e Machado esbravejam contra 'ditadura da justiça' em mais um áudio
Renan e Machado dizem que investigadores se acham 'donos do mundo'.
Sérgio Machado reclama que Dilma ‘não tem solidariedade com ninguém'.
Sérgio Machado vem tirando o sossego de políticos. Com
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