Cinco dias antes, dia 15/1, Nuland encontrara-se com um conselheiro do Kremlin, Vyacheslav Surkov.[1] Segundo a rádio do governo dos EUA, Radio Free Europe, e os noticiários oficiais russos, a reunião aconteceu numa residência oficial do governo russo em Pionersky, perto de Kaliningrad, a portas fechadas. A agência Tass noticiou que as conversas duraram mais de quatro horas. Não se distribuíram fotos.
No mesmo dia, mais tarde, o Departamento de Estado anunciou: “As conversas foram construtivas e organizadas em apoio ao trabalho em andamento dos países do [formato] Normandia e do Grupo Trilateral de Contato.” Surkovdeclarou à mídia russa: "Foram discussões substanciais, construtivas e úteis. Pode-se dizer que fizemos umbrainstorming sobre vias de entendimento para buscar a implementação dos acordos de Minsk.”
A reunião de Surkov foi assumida e endossada pelo Kremlin, dia 19/1. O porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov disse à agência Tass que Surkov reportara a conversação com Nuland ao presidente Putin. Peskov disse também: “Sobre essas conversas, estamos falando de diálogo em nível de especialistas entre Moscou e Washington. Como os senhores sabem, os EUA não são parte do processo Normandia e, ao mesmo tempo, todos temos interesse em dar aos EUA a oportunidade de receber informação de primeira mão, mesmo não sendo membro do processo Normandia."
Um dia depois, na reunião de Zurique, vejam a bandeira da Rússia, na reunião em Zurique, atrás de Kerry (imagem 4, no blog). Minutos antes de a reunião começar, o organizador do Departamento de Estado dos EUA, gravou essa resposta ao alerta de que a bandeira da Rússia havia sido posta invertida no mastro junto à parede das fotografias, na sala de reuniões ("Tem certeza? Vcs não estão de sacanagem comigo?!" – pergunta o norte-americano com ar de babaca. – "É claro que não!", recebe a resposta).
Desde o tempo dos grandes navios à vela, esse foi sinal muito significativo. Segundo o Código dos EUA, título 36, capítulo 10, Seção 176 (a), exibir a bandeira invertida é "sinal de grave distúrbio, em momentos de extrema ameaça à vida ou a propriedades.”
Essas imagens foram interpretadas em todo o mundo como indicações do ânimo reinante hoje entre russos e norte-americanos, agora que a guerra para derrubar o governo russo entra no 3º ano.
Essa interpretação é errônea. As imagens são, sim, sinalização da inteligência (sigint), mas nada têm de encriptadas ou codificadas.
Os movimentos de Nuland revelam que ela crê que possa fazer guerras pelo mundo sem risco pessoal para ela. A boca aberta de susto registra o choque de descobrir que é vista, pessoalmente, como agente ativa de mais guerra.
O movimento de Lavrov nada tem de implicância pessoal. Todo aquele movimento comunica aos presentes a conclusão do Estado-maior russo, dos serviços de inteligência e do Ministério do Interior da Rússia, de que é absolutamente tempo perdido 'dialogar' com funcionários como Nuland.
Isso, porque não há uma linha que gente como ela tenha dito ou escrito ou assinado, ao longo dos últimos dois anos, em que alguém possa acreditar. Se vão deixar que gente como Nuland conduza a guerra em curso, o movimento de Lavrov sinalizou que a vitória não poderá ser decidida em conversações, mas em combate, no front.
Mas não foi o que Surkov e Peskov [o lado "Putin" da equação, que parece estar ainda apostando em 'conversações' infindáveis com as Nulands que os EUA mandam à Rússia] sinalizaram.
NOTA: Leitor atento que estudou o vídeo da reunião em Zurique escreve para dizer que por menos de 1 segundo, entre 0,19'' e 0,20'' da gravação rodada em tempo normal, as mãos de Lavrov e Nuland parecem tocar-se. Comparando-se com o aperto de mão firme que Lavrov trocou com todos os demais norte-americanos presentes, o movimento diante de Nuland foi apenas um toque, quase um esbarrão, não o aperto de mãos para o qual Nuland estendeu a mão e que contava receber. Vejam novamente. *****