EUA-2012: “O implacável espancamento da democracia”
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EUA-2012: “O implacável espancamento da democracia”


Robert Parry

Afinal, depois de quatro anos de longo suplício, o povo norte-americano rejeitou a política dos Republicanos, de sequestro e espancamento implacável da democracia. Em vez de recompensar o Velho Grande Partido [orig. Great Old Party, GOP], por fazer “gemer” a economia dos EUA, os eleitores – por margem de quase 3 milhões de votos – reelegeram o presidente Barack Obama.

A estratégia de violência dos Republicanos começou no dia em que Obama tomou posse, dia 20/1/2009. O plano sempre foi deslegitimar, denegrir e destruir o primeiro presidente negro dos EUA. Fracassou, porque os jovens, os negros, os hispânicos e outras minorias uniram-se na luta para defender o candidato que elegeram; compareceram às urnas em grandes números e nunca cederam.

Em 2012, o presidente Obama perdeu votos entre os brancos (mais brancos votaram nos Republicanos, que em 2008), mas outras minorias demográficas, entre as quais as mulheres, votaram mais massivamente na reeleição que na eleição de Obama.

Ao fazê-los, os eleitores não só rejeitaram o projeto dos Republicanos de usar a economia dos EUA como refém (obstruindo todas as propostas que Obama encaminhou ao Congresso e forçando uma crise que levou ao rebaixamento do crédito dos EUA no ano passado), mas, também, reagiram contra os esforços dos Republicanos de suprimir o voto de milhões de eleitores. Além disso, também neutralizaram o ataque – de violência sem precedentes – da campanha conduzida pela televisão e que rendeu centenas de milhões de dólares às redes comerciais, dinheiro o qual foi injetado na campanha por bilionários pró-Republicanos.

Por tudo isso, a noite das eleições presidenciais foi grande noite para a democracia norte-americana. Os eleitores conseguiram resistir à mais violenta ofensiva conduzida pelos plutocratas e pela televisão, na história moderna dos EUA. Resistiram e deram o troco. Além da reeleição de Obama, os Democratas de fato ganharam assentos no Senado dos EUA (contrariando as expectativas de que poderiam perder a maioria).

Os Republicanos conservaram a maioria que tinham na Câmara de Representantes – beneficiaram-se da nova redivisão em distritos, em muitos estados controlados por governadores e Assembleias estaduais Republicanos – mas, depois de encerradas algumas eleições ainda não decididas, a maioria Republicana se verá menor do que antes.

A Grande Pergunta

Eisenhower

A grande pergunta do dia, portanto, depois desse fracasso dos Republicanos, é se a derrota levará a algum tipo de exame de consciência que faça os Republicanos olharem-se no espelho e começarem a se reconstituir, em busca de uma imagem de partido de empresários sérios e mais responsáveis, semelhante à que tiveram nos anos 1950s, na era Eisenhower.

Richard Nixon

Os Republicanos terão aprendido a lição? Repudiarão, afinal, as táticas do vencer a qualquer custo que aprenderam de Richard Nixon, inclusive sua “Southern Strategy” e os apelos nada sutis a sentimentos e ressentimentos racistas e xenofóbicos? Os Republicanos aceitarão os fatos da ciência, em questões cruciais como o aquecimento global – ou continuarão a insistir em fantasias e a fazer o próprio pensamento político depender integralmente de propaganda?

Os Republicanos afinal reconhecerão que a República Norte-Americana foi criada por Fundadores que acolheram o Estado e o Governo como agentes cruciais na construção da nação, e que conceberam a Constituição para criar uma autoridade central com poderes fortes para promover “o bem-estar geral”? Os Fundadores nunca rejeitaram e desdenharam o governo, como faz hoje o Tea Party.

Encontrar respostas a essas questões é tarefa difícil para os Republicanos, os quais não só internalizaram a violência, ao longo dos últimos 40 anos, mas, também, implantaram genes do “não queremos saber de nada” no próprio DNA do partido. Em termos gerais, os Republicanos beneficiaram-se dessa abordagem. Não é fácil abandonar táticas que tenham dado resultado.

E há também a considerar a realidade da massiva infraestrutura da imprensa-empresa de direita, jornalistas, editores, colunistas, think-tanks mercenários e grupos de ataque organizados como gangues – os quais, todos, tem fortes interesses investidos na manutenção do status quo.

Ainda que alguns líderes dos conservadores possam ter algum desejo ou interesse em mudar a rota, teriam de enfrentar diretamente inúmeros jornalistas e comunicadores, que operam pelas televisões comerciais como propagandistas entrincheirados (falo dos Rush Limbaugh, Glenn Beck e da rede Fox News), todos a postos, desde já, para denunciar como traidores quaisquer conservadores que deem sinal de interessar-se por atitude mais responsável.

Nesse quadro, ante a perspectiva de guerra quase inevitável, o Partido Republicano pode bem optar por manter a mesma linha de atuação; continuarão, assim, a trabalhar para consolidar o voto dos brancos e para legislar na direção de suprimir o voto de outros grupos étnicos, investindo simultaneamente cada vez mais em propaganda, para estabelecer confusão ampla, geral e irrestrita na opinião pública, para perseverar nas táticas de obstrução de votações.

Mas a dura realidade com a qual os Republicanos têm hoje de conviver é que aquelas táticas velhas não deram certo em 2012. Os Republicanos fizeram refém a economia dos EUA e disseram, pela imprensa-empresa, que a única salvação, para os eleitores, seria eleger Mitt Romney e, dali em diante, obedecer servilmente a um Congresso Republicano.

Hoje já se viu que mais de 60 milhões de eleitores reelegeram o presidente Obama e declararam que o Partido Republicano dos EUA é blefe.

Redecastorphoto



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