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Palestina-Israel: “Chegou a hora das decisões duras”, diz Kerry
Foto: Primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, em Jerusalém, nesta quinta (02/01/2014).
“Acordo Quadro” proposto pelos EUA avança, apesar das resistências entre israelenses e palestinos“O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, chegou a Israel na quinta-feira (02/01/2014), pela décima vez em menos de um ano, de acordo com o jornal israelense Ha’aretz.
Uma das suas primeiras mensagens foi a de que, nas próximas semanas, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyhau, e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, terão de tomar “decisões difíceis” que determinarão o futuro das negociações, já estagnadas há demasiado tempo.”
Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho,
Com informações do Ha’aretz
Kerry reuniu-se por quase cinco horas com Netanyahu, que virou a mesa em uma denúncia feita pelos palestinos reiteradamente: a falta de interesse na construção da paz. Como é conhecido na carta de estratégias israelenses, o premiê disse questionar o comprometimento da Autoridade Palestina (AP) com as negociações, ao mesmo tempo em que promoveu um longo período de avanço da construção de colônias na Cisjordânia e em Jerusalém Leste, territórios palestinos.
Além disso, a proposta reiterada de princípios absurdos pelos israelenses – através do seu porta-voz estadunidense, Kerry – inclui a desmilitarização do Estado da Palestina a ser efetivado e a permanência de tropas sionistas no seu território, sobretudo na fronteira com a Jordânia.
A recusa em reconhecer o direito ao retorno para os refugiados palestinos, estabelecido por diversas resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU), em definir as fronteiras já generosas aos israelenses – as de 1967, como aceitam os palestinos, ou seja, as definidas antes do avanço da ocupação israelense, a partir da Guerra dos Seis Dias – e outras questões centrais, como o status de Jerusalém, são os maiores entraves postos por Israel ao progresso das negociações.
Estas são também questões que a AP tem reivindicado para a discussão de um “acordo-quadro”, ou seja, uma base de partida para um acordo final, como proposto por Kerry. Os palestinos estão exauridos por um processo infinito que ainda não lhes trouxe outros resultados a não ser a virtual “institucionalização” da ocupação, com a bênção tácita, se não declarada, dos EUA e de algumas potências europeias.
Ainda assim, tanto autoridades palestinas quanto israelenses – neste caso, os que têm no sionismo apenas uma ideia romântica de identidade comum judia, seja qual for a interpretação que façam disso, e não a investida colonialista e racista em que esta ideologia de Estado foi assentada – têm elogiado Kerry pela “dedicação ao processo”, com várias viagens à região e longas reuniões com os dois líderes, chegando a “ousar” dizer que tem como objetivo para esta rodada de negociações um “acordo final”.
Ousadia porque é esta falta, a de um “fim para o processo”, a denúncia generalizada, mas também a zona de conforto do sionismo, seu protegido. Além disso, uma avaliação superficial pode expor o tal “processo” como um de concessões e “decisões duras” para os palestinos, embora Israel também se empenhe em dizer que “concedeu” demais.
Não apenas os palestinos perderam a maior parte do seu território – restando com apenas 22% dele – como, ainda, o que sobrou ficou dividido entre grandes áreas de ocupação israelense, resultado de um “acordo interino” que acabou permanente, da década de 1990.
Foto 2: Mapa de O Globo, Mundo, Página 23, Sexta-Feira, 03 01 2014
Construir as bases de negociação“Sabemos quais são as questões e os parâmetros” disse Kerry em Jerusalém, onde se reuniu com Netanyahu, nesta quinta. “Está chegando a hora em que os líderes terão de tomar decisões duras. Nas próximas semanas, os dois lados terão de fazer escolhas difíceis.”
O chanceler estadunidense deve ficar na região pelos próximos três dias, quando planeja “trabalhar com os dois lados para diminuir as diferenças a um quadro que assentará as diretrizes para as negociações.” É de se perguntar, entretanto, o que é que vem sendo debatido nesses cinco meses já transcorridos desde a retomada das “negociações”, no fim de julho.
O período acordado para mais esta rodada era de nove meses, ou seja, já se passou quase a metade e ainda nenhum avanço significativo foi constatado pelos que estamos de fora, muito menos pelo povo palestino, que vive a ocupação diariamente. Ainda assim, Kerry repete que o “quadro” cobriria todas as questões centrais: fronteiras, segurança, Jerusalém, refugiados, reconhecimento mútuo, o fim do conflito e das reivindicações jurídicas, de acordo com o Ha’aretz.
Kerry teria enfatizado também que este acordo-quadro seria assentado sobre todas as reivindicações feitas pelos dois lados desde a retomada das negociações, durante as 20 reuniões feitas entre as equipes diplomáticas nestes cinco meses. Também é preciso ressaltar que, ao menos pelo que se soube através da mídia – já que as declarações públicas dos envolvidos foi proibida, apesar de umas escapadas aqui e ali -, não há novidade nessas reivindicações, nenhuma surpresa. São pontos históricos defendidos pelos palestinos, ou exigências redundantes e abusivas, do lado israelense.
Segundo Kerry, o acordo-quadro – e não mais um “interino”, ressalta, para contrapor as denúncias palestinas de mais um acordo sobre nada específico, ou melhor, sem garantia de fim do conflito – deve criar parâmetros fixos nos quais as partes planejarão o destino e o resultado das negociações. “Um quadro acordado vai clarificar e preencher as lacunas entre as partes, para que possam avançar em direção a um tratado de paz final.”
Embora Kerry tenha elogiado, novamente, os dois líderes pelo “comprometimento com as negociações”, Netanyahu já havia discursado antes, quando aproveitou para atacar o presidente Abbas e levantar dúvidas sobre se Israel tinha mesmo um “parceiro para a paz”. “Dadas as ações e palavras dos líderes palestinos, temos dúvidas em Israel sobre o seu compromisso com a paz.” Voltando ao início da década de 2000, e também ao início da década de 1990, e antes disso também, seguramente, pode-se ouvir o mesmo discurso dos líderes israelenses, enquanto o avanço da ocupação se mantém constante. O cinismo é descarado, mas cada vez mais claro.
Kerry deve encontrar-se ainda com o ministro das Relações Exteriores recém-reinstituído ao cargo – após ser liberado das acusações de corrupção que vinha enfrentando – Avigdor Lieberman, que, apesar das posições racistas e destrutivas, com acusações frequentes contra os palestinos e propostas de segregação amplamente denunciadas, disse que era preciso “dar uma chance” à proposta de Kerry.
Nesta sexta (03/01/2014) à noite, o enviado estadunidense deve reunir-se com o presidente Abbas, em Ramallah, a sede da AP, na Cisjordânia. Depois disso, deve voltar a Jerusalém para outra reunião com Netanyahu e com Abbas, separadamente, e viajar para a Jordânia no domingo (05/01/2014).
Foto: Primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, em Jerusalém, nesta quinta (02/01/2014).
Fonte: Vermelho
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