Semana 16 da intervenção russa: EUA invadirão a Síria?
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Semana 16 da intervenção russa: EUA invadirão a Síria?



Essa semana foi marcada por notáveis sucessos para as forças militares sírias na região de Sheikh Miskeen na província Daraa no sul do país. Enquanto isso, no norte, o Exército Sírio continua sua ofensiva ao norte da estratégica base aérea de Kuweires. Mas esses sucessos militares foram eclipsados por boatos de que os EUA estariam implantando uma base aérea ao norte da Síria, possivelmente perto de Rmeilan, cidade no governorado al-Hasakah no nordeste da Síria, e que isso poderia ser preparatório para uma invasão norte-americana por terra.

Curiosamente, a mídia-empresa nos EUA pôs-se a publicar rumores de que os russos estariam implantando uma segunda base aérea no norte da Síria. Erdogan chegou a declarar que ele “não tolerará” uma segunda base aérea russa na Síria curda. E na sequência, claro, houve a declaração de Joe Biden, falando de uma ‘solução militar’ dos EUA para a Síria, se não se encontrar solução negociada. Ouçam-no dizer que os EUA são capazes de “arrancar de lá” o Daech (vídeo, ing.).

Quanto ao secretário de Defesa Ashton Carter, declarou que a 101ª Divisão Aerotransportada logo seria deslocada para o Iraque para combater o Daech em Mosul e para a Síria para combater o Daech em Raqqa (e, isso, apesar das 16 promessas de Obama de não pôr ‘coturnos’ dos EUA em solo!). Como se podia prever, esses rumores rapidamente resultaram em algumas manchetes insanas, como, dentre outras: “EUA e Turquia iniciam invasão por terra à Síria. Como responderá a Rússia?” Exagero dos grandes, para dizer o mínimo. Em vez de nos deixar enganar por esses ‘movimentos’, examinemos o que realmente está fermentando.

Primeiro, é muito improvável que a 101ª inteira seja deslocada para a região. No máximo se cogita de alguns batalhões, talvez uma ‘equipe de combate’, mas nada que configure força de invasão. Além do mais, a 101ª é divisão de infantaria leve que absolutamente nada tem a ver com força de invasão por terra. Numa guerra convencional, a 101ª poderia apoiar forças regulares em solo, nunca substituí-las. Numa guerra de contrainsurgência, a 101ª pode fazer muitas coisas, incluindo segurança, operações antiterroristas, treinamento de forças locais, coletar inteligência, etc. Mas supor que a 101ª desceria do norte da Síria até Damasco para derrubar Assad é, simplesmente, fantasia, não é ideia realista.

Quanto à base aérea que os EUA teriam tomado no norte do Iraque, examinem o mapa vocês mesmos e vejam onde está localizada: muito distante do extremo nordeste do país, próxima das fronteiras da Turquia e do Iraque, mas muito muito distante da cidade de Damasco ou dos radares russos no Mediterrâneo ou Latakia (ver mapa).
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Os norte-americanos anunciaram que planejam ofensiva de dois braços, um rumo a Mosul e outro rumo a Raqqa.

Considerando-se que os EUA já têm bases aéreas na Turquia e no Iraque, a única coisa que essa pista extremamente primitiva (usada no passado para “aviões agrícolas” na pulverização das colheitas) poderia oferecer-lhes é lugar conveniente para onde levar pessoal especializado e por onde pode ser retirado da região. De modo algum pode servir como base para uma grande força de invasão.

Além disso, ainda não se sabe com clareza se elementos da 101ª seriam deslocados só para o Iraque ou também para a Síria.

Pelo menos uma revista norte-americana parece acreditar que, em vez de uma força de combate, a base aérea Rmeilan na Síria seria usada para vários tipos de forças especiais dos EUA, incluindo controladores de combate, paraquedistas socorristas, meteorologistas mais pessoal do Comando de Operações Especiais [ing. JSOC]. Se é isso, estamos falando de uma força pequena e especializada, não de força de invasão de qualquer tipo.

Minha avaliação é que, independente do que digam Biden e Carter, é cedo demais para determinar o que o Tio Sam planeja a seguir, para a Síria. O campo de pouso em Rmeilan parece estar sendo visto pelos EUA como bom local para estabelecer uma presença e manter abertas algumas opções.

Absolutamente não acredito, nem de longe, que os EUA tenham qualquer intenção de invadir a Síria, mas, se tivessem, veríamos esforço logístico muito maior, e concentração ali de grandes formações que estariam se aproximando de diferentes direções (da Turquia e da Jordânia, possivelmente do Iraque). Nesse caso, Rmeilan poderia servir para helicópteros norte-americanos, mas não para aeronaves de asas fixas, ou não, pelo menos, sem grandes reformas na(s) pista(s) e na infraestrutura.

Mas a grande pergunta no que tenha a ver com “solução militar” dos EUA para a Síria – é se a tal “solução militar” é realmente possível.

Não me parece que seja, e por uma razão bem simples: a única força que existe lá e que pode enfrentar com sucesso, no solo, o Daech, são os militares sírios. Nem os iranianos nem o Hezbollah, pelo menos nesse momento, têm a escala de forças necessária para, sozinhos, combater contra o Daech.

Em termos puramente militares, Turquia ou Irã poderiam, me parece, lançar invasão em grande escala, mas os custos políticos seriam proibitivos. Além do que, os turcos não parecem ter estômago para guerra sangrenta, como seria essa, sem nenhuma clara estratégia de saída. No máximo, os turcos querem apossar-se de uma faixa de terra no norte da Síria, para manter os curdos separados.

Diferentes dos turcos, os iranianos podem pelo menos ser legalmente convidados pelos sírios, mas dificilmente esse convite acalmaria os EUA, a Arábia Saudita ou os turcos, que enlouquecerão de fúria se se consumar esse movimento iraniano. Tendo obtido grande vitória diplomática sobre EUA e Israel, o Irã provavelmente não tem qualquer desejo de criar outra grande crise. Finalmente, como já disse zilhões de vezes ‘os russos NÃO ESTÃO chegando’.

Tudo isso para repetir que a única força capaz de dar conta do Daech são os militares sírios, e não vejo os EUA capazes de deslocar para lá nem perto dos níveis de força necessários para que os norte-americanos tornem-se atores críveis nessa guerra.

Os sírios em solo, os russos nos céus e alguma assistência especial de Irã e Hezbollah – eis a única aliança competente para encarar o Daech e lenta mas ininterruptamente empurrá-lo para fora de grande parte da Síria. Os norte-americanos parecem querer usar os curdos num papel similar ao desempenhado pelo exército sírio, ‘coturnos em solo’. Essa ideia ignora completamente o fato de que “curdos” não são força única, não são exército regular e não são árabes, e que a Turquia, aliado chave dos EUA em qualquer operação, jamais admitirá que os curdos desempenhem papel regional de destaque.

É possível que curdos, americanos e iraquianos consigam, juntos, retomar Mosul, especialmente contra um Daech enfraquecido. Quanto a retomarem Raqqa, absolutamente não vejo tal coisa acontecer, mas posso estar errado nisso, e o Daech pode estar ainda mais fraco do que suponho que esteja. Mas é só isso, nada além disso.

Se é isso o que Biden chama de “solução militar”, ele erra já na definição da coisa. Eu falaria, no máximo, de “um ‘esquenta'”, dos EUA, antes do espetáculo dos russos, as reais estrelas daquela ação.

[assina] The Saker

Oriente Mídia



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