Será real a divisão na Ucrânia?
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Será real a divisão na Ucrânia?


A discussão sobre a possibilidade da divisão da Ucrânia em ocidental e oriental não é nova, a resposta porém será dada pela história.

Apesar da votação a favor de diferentes candidatos e das diferenças culturais evidentes, o leste ucraniano, que antes pertencia à Rússia, e as regiões ocidentais, que viviam sob o poder do Império Austro-Húngaro, da Polônia ou da Hungria, coexistem num Estado desde a formação da Ucrânia independente. No período pós-soviético, a elite russa foi satisfeita em princípio com tal situação. No fundo, ela renunciou às reclamações territoriais à península de Crimeia, que nunca pertencia à Ucrânia, a favor da estabilidade no país vizinho. A unidade da Ucrânia não suscitava dúvidas entre os seus cidadãos: os nacionalistas do Ocidente reagiam como a um fato à unidade da nação ucraniana em um Estado formado em resultado do pacto Molotov-Ribbentrop, assinado em 1939, enquanto o empresariado do leste ucraniano não tinha nada contra as palavras “Europa” e “independência”.

Foram a União Europeia e os Estados Unidos que faziam lembrar a diferença entre o Oriente e o Ocidente da Ucrânia e sua alegada intransigência. Esta contraposição atingiu cúmulo nos tempos da segunda temporada das manifestações em Maidan (praça da Independência). Entretanto, ainda antes, a mídia da Europa e dos EUA pintava ucranianos de leste como pessoas de outra categoria e a revista Newsweek os ligou ao termo de homo sovieticus. Atualmente, a própria União Europeia está um pouco assustada com o êxito de sua propaganda: da oposição da Ucrânia Ocidental ficaram visíveis as pessoas que, no caso de integração com a Europa, poderão causar muitas desgraças na UE. Denis Kiryukhin, perito do Centro de Pesquisas Políticas e de Conflitologia de Kiev, afirma:

“Estas pessoas são radicais tendo por tarefa ideológica efetuar não tanto um golpe de Estado, quanto uma revolução cardinal no país, estabelecendo uma ditadura por caraterísticas nacionais. Sua ideologia visa instaurar etnocracia no país, garantindo prioridade aos ucranianos étnicos”.

A tarefa de inimizar cidadãos ucranianos de expressão russa e ucraniana é complexa, mas, como mostraram os acontecimentos dos últimos dez anos, é real graças tanto ao “poder laranja” de Yuschenko e Tymoshenko, como à indulgência em relação aos nacionalistas por parte de Yanukovich. Declarando recentemente sobre a presença de extremistas no país, Yanukovich atrasou-se alguns anos, no mínimo. Os jovens que atiram coquetéis molotov contra efetivos das forças de segurança e ocupam Kiev sob lemas nazistas não se formaram num dia. Aqueles que hoje se batem gritando “Ucrânia acima de tudo!” conhecem que esta frase está copiando o hino nazista “Deutschland uber alles”. Lembrando que durante as discussões da lei sobre a língua e o ensino, decorridas no ano passado, a União Europeia e os Estados Unidos tomaram o lado de nacionalistas ucranianos. Deste modo, na Ucrânia, em que durante muitos anos se mantinha uma relativa paz étnica, as divergências foram estimuladas anos inclusive em resultado da indulgência por parte das autoridades.

Hoje, os nacionalistas aspiram ao poder total na Ucrânia, pretendendo controlar tanto o poder executivo, como legislativo. Para alcançar este objetivo, apelam para que sejam realizadas novas eleições e tentam devolver a Constituição de 2004 para reduzir as competências de Yanukovich. Mas a Ucrânia é um Estado unitário, em que praticamente tudo é resolvido por funcionários em Kiev. Se o poder em Kiev passar totalmente para as mãos de nacionalistas étnicos, o leste de expressão russo pretenderá abandonar o país. Citamos comentários de Valeri Solovei, professor do Instituto de Relações Internacionais de Moscou:

“Hoje, a parte presidencial já pode conseguir a federalização da Ucrânia. Esta é uma decisão arriscada, mas prometedora. Tal passo não significa simplesmente o retorno da Constituição de 2004, mas também a inclusão dos capítulos sobre o Estado federativo na Lei Fundamental e, respetivamente, a limitação das funções do poder supremo em relação às regiões”.

Em 2005, após a vitória de Viktor Yuschenko nas presidenciais, o Partido das Regiões já empreendeu uma tentativa de conceder autonomia às regiões orientais. Naquela altura, este passo fracassou: a elite ucraniana, em primeiro lugar oligarcas, acordaram dividir o poder e os capitais. Pergunte-se se isso for possível hoje. Atualmente, as forças centrífugas ainda têm bastante força na sociedade ucraniana.

A Rússia, apesar de tentativas da mídia ocidental de acusá-la de ingerência, ocupa uma posição ponderada, praticamente neutra, no conflito entre o Oriente e o Ocidente da Ucrânia. Mas as forças centrípetas podem obter um forte apoio tanto da parte de nacionalistas na praça da Independência, como da União Europeia, que tenta intervir no jogo, e de líderes da oposição Yatsenyuk e Klitschko que pretendem encabeçar a onda nacionalista. Se a Ucrânia se dividir em partes, isso será seu “mérito”.

Voz da Rússia



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